Edição 1.478 página 16 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 As pegadas de Kafka foram antecedidas por autores como Dante Alighieri. Sim, aquele de A Divina Comédia. O italiano Dante era um apaixonado por uma certa Beatriz. Século 13, por aí. Ele a conheceu quando tinha nove anos de idade e depois de nove anos voltou a vê-la e pôs na cabeça que com ela teria de se casar. Dançou. Ela foi para um lado e ele para outro. Amor platônico. Ele próprio casou com outra mulher e com ela foi pai três vezes; uma das filhas, a quem deu o nome de Beatriz, findou seus dias num convento. Na época de Dante, na verdade antes e depois de Dante, era comum casamentos feitos de modo arranjado. Negócio na parada e a mulher como moeda de troca. Toma lá, dá cá. “Objeto”, com dote e tudo. Era através de casamentos assim arranjados, negociados, que famílias ricas ficavam mais ricas. Como se vê, por interesse. Nesse ponto fica claro que o sexo era o caminho para fortalecer elos que levassem ao poder. E, como expressão artística, o sexo é um poço sem fundo. Já andei falando de Pietro Aretino, mas não custa lembrar que ele era assim e assim com religiosos do seu tempo. Chegou a ser amigo até de papas, como Clemente VII. Era temido por fracos e fortes. É dele a frase: “Escondemos o nosso sexo e pomos à vista as mãos que roubam e matam, e a boca que jura em falso”. Tinha por hábito “emprestar” suas mulheres aos amigos. Às vezes, uma ou outra voltava ao seu teto. Por saudade, tesão ou sabe-se lá o quê! Giacomo Casanova, o galã galante de Veneza, era intelectual e músico. Deixou muitos livros publicados e uma rica autobiografia, cujos originais estão na Biblioteca Nacional da França, que seria transformada em livro muito tempo depois da sua morte, em Duchcov, República Checa. Como tradutor, Casanova deixou sua marca em Ilíada, de Homero, para italianos. Conheceu muita gente importante, entre homens e mulheres. Aliás, dizem que não fazia muita diferença entre levar para cama um homem ou uma mulher. Entre os famosos, desfrutou dos abraços da imperatriz russa Catarina, A Grande (1729-1796). Catarina assumiu o poder na Rússia depois de mandar matar o imperador Pedro III, com quem se enrolava na cama. Esse Pedro era broxa, diziam. Era doida por machos. Teve muitos amantes, o mais frequente foi Grigori Potiomkin (1739-1791), que talvez tenha amado. Todo mundo sabe que Henry Miller foi extremamente erótico nas Licenciosidade na cultura popular (LXXVI) suas narrativas. Era casado e tinha como amante a polêmica escritora Anaïs Nin (1903-1977), autora de Delta de Vênus (1977) e Incesto: diários não expurgados (1992). Nin tinha dois irmãos quando o pai se separou da mãe para se casar com uma mulher bem mais nova do que ele. A vida pessoal de Anaïs Nin não foi nada fácil. Para passar o tempo escrevia cartas ao pai, que nunca as recebia. A mãe as bloqueava. Foi a partir daí que ela virou escritora. Seus originais se acham na Biblioteca de Los Angeles. E o Marquês de Sade? E Restif de La Bretonne? Esses eram contemporâneos, nascidos em terras francesas, como os incomparáveis Rabelais e Voltaire. Sade deixou um monte de livros. Uns 50 ou 60. Bretonne foi também respeitado intelectual do seu tempo, chegando até a inspirar os revolucionários franceses do século 18 a pôr abaixo a Bastilha. Numa lista pessoal, Bretonne anotou ter possuído mais de 300 mulheres. Sade foi preso várias vezes, inclusive na Bastilha. Morreu no manicômio, provocando pesar de Napoleão Bonaparte (1769-1821), que o mandou pra lá. Foi um libertino libertário, como Bretonne. Era um intelectual, escrevia e falava muito bem. Sabia o que dizer. Seus textos nos mais de 50 livros que publicou são e serão incríveis. Sade foi muito além do que se possa imaginar: era rico, viveu, sofreu… Bonaparte o fodeu. Todos dizem, na história, que Sade era sádico… Bonaparte teve uma vida sexual bastante agitada, até porque não havia harmonia entre ele e a mulher. A separação de Napoleão e Josefina ocorreu em 1809. Sobre Napoleão há um extenso e curioso anedotário. Um deles foi dito por Ariano Suassuna. Mais ou menos assim: Dois doidos se encontram num manicômio. Um deles pergunta: − Por que você não bate continência pra mim? − Quem é você? − Eu sou o imperador Napoleão Bonaparte! Surpreso o outro doido pergunta − E quem lhe fez imperador? − Deus! − Eeeeu!? Napoleão foi o cara que botou D. João VI pra correr de Portugal e com ele o filhote Pedro. Quando D. João VI veio ao Brasil, corrido, trouxe um montão de gente. A vinda do rei português para o Brasil foi escoltada por uma esquadra inglesa. E não custa lembrar que ele se casou com uma certa Joaquina e com ela teve nove filhos. Teve também uma amante, pelo menos: Eugênia, que engravidou e acabou pagando o pecado num convento espanhol. O diretor Doug Wright fez um filme baseado nos últimos dias de Sade: Contos Proibidos do Marquês de Sade. Reproduções por Flor Maria e Anna da Hora Dante e Beatriz, em pintura de Henry Holiday Marquês de Sade
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