Edição 1.485 - pág. 5 Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia Parceiro de conteúdo Esta semana em MediaTalks Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, escreveu nesta semana um artigo para a campanha anual Journalism Matters, da News Media Association, em que aproveitou para indiretamente tentar aplacar a reação negativa a um possível plano para flexibilizar o uso de conteúdo jornalístico pelas empresas de IA. Os rumores surgiram após uma reportagem do The Observer (edição dominical do The Guardian) ter revelado que o governo poderia permitir que empresas de IA usassem conteúdo de forma automática, transferindo aos criadores a responsabilidade de bloquear o uso não autorizado. Os editores acham difícil – a começar por não se saber exatamente qual empresa estaria “raspando” os dados. A estratégia teria como objetivo tornar o país mais atrativo para as Big Techs, em comparação com os EUA e, principalmente, a União Europeia, onde as regulamentações são mais rigorosas Em setembro, a diretora do Google no Reino Unido alertou que o país corria o risco de ficar para trás na corrida global pela inteligência artificial caso o governo não construísse mais data centers e permitisse o uso de materiais protegidos por direitos autorais para treinar os modelos de linguagem. A notícia do Observer provocou reação imediata. E não deve ter sido apenas dos que falaram publicamente, como a BBC, mas também dos barões da imprensa que agem nos bastidores. Em meio a rumores de que flexibilizaria uso de conteúdo jornalístico pelas IAs, premiê britânico faz um afago à imprensa mas não responde a temores Dois grandes jornais britânicos, The Times e The Sun, pertencem a Rupert Murdoch, também dono do New York Post e da Dow Jones, que nos EUA entraram com processo contra a Perplexity IA por uso de seu conteúdo. No artigo, Starmer reafirma o compromisso com a liberdade de imprensa, lamenta a situação dos profissionais que cobrem guerras e assegura que seu governo não pressionará meios de comunicação críticos, até chegar ao ponto que mais aflige o setor: o impacto da IA sobre a indústria. “Reconhecemos o princípio básico de que os editores devem ter controle e buscar pagamento por seu trabalho, inclusive ao pensar sobre o papel da IA. Isso é essencial para um cenário de mídia vibrante, no qual informações confiáveis são mais vitais do que nunca”. O premiê afirma que o órgão de concorrência do país será capacitado a lidar com o “domínio excessivo” de um pequeno número de empresas de tecnologia e ajudará a “reequilibrar o relacionamento”. Mas não disse exatamente como isso será feito, nem descartou o modelo opt-out. Essa questão, diretamente ligada à luta contra a desinformação a que Starmer se referiu, foi destaque na Trust Conference, promovida pela Fundação Thomson Reuters em Londres na última semana, e que será tema de uma edição especial do MediaTalks. As empresas de IA defendem que a extração de conteúdo protegido para treinar seus modelos é justificada sob o conceito de “uso justo.” No entanto, muitos temem que essa prática agrave a crise financeira da mídia, já abalada pela migração da publicidade para plataformas digitais. O uso de conteúdo por IA pode afastar leitores dos sites originais e reduzir ainda mais as receitas. Durante a conferência, a respeitada jornalista de tecnologia americana Kara Swisher fez duras críticas às Big Techs, comparando-as a shoplifters (ladrões de loja). Mas responsabilizou os reguladores pela falta de ação para disciplinar o setor. Dono de jornais no Reino Unido, Murdoch está processando IA nos EUA Rádio da Polônia gera polêmica ao trocar apresentadores humanos por avatares criados com IA | Leia mais Isenção? Donos do LA Times e Washington Post barram apoio a Kamala e fazem a alegria de Trump | Leia mais Novo relatório da RSF mostra como #MeToo impulsionou cobertura de violência de gênero, mas jornalistas temem investigar casos | Leia mais Harvey Weinstein David Shankbone/Wikimedia
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