Edição 1.486 - pág. 42 A pessoa, o lugar, o objeto estão expostos e escondidos ao mesmo tempo, sob a luz, e dois olhos não são bastantes para captar o que se oculta no rápido florir de um gesto. É preciso que a lente mágica enriqueça a visão humana e do real de cada coisa um mais seco real extraia para que penetremos fundo no puro enigma das imagens. Fotografia — é o codinome da mais aguda percepção que a nós mesmos nos vai mostrando, e da evanescência de tudo edifica uma permanência, cristal do tempo no papel. Diante das fotos de Evandro Teixeira Drummond e Evandro Teixeira Evandro Teixeira/Acervo IMS (*) Drummond, que era cronista, trabalhou com Evandro Teixeira no Jornal do Brasil. Veja nota na pág. 16. Das lutas de rua no Rio em 68, que nos resta, mais positivo, mais queimante do que as fotos acusadoras, tão vivas hoje como então, a lembrar como exorcizar? Marcas de enchente e de despejo, o cadáver insepultável, o colchão atirado ao vento, a lodosa, podre favela, o mendigo de Nova York, a moça em flor no Jóquei Clube, Garrincha e Nureyev, dança de dois destinos, mães-de-santo na praia-templo de Ipanema, a dama estranha de Ouro Preto, a dor da América Latina, mitos não são, pois que são fotos. Fotografia: arma de amor, de justiça e conhecimento, pelas sete partes do mundo, viajas, surpreendes, testemunhas a tormentosa vida do homem e a esperança de brotar das cinzas. n Decidimos excepcionalmente incluir duas histórias nesta edição dada a relevância dos homenageados. Por Carlos Drummond de Andrade, no livro Amar se aprende amando (1985)* 1
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