Edição 1.486 - pág. 43 Na madrugada fria de São Paulo, Eunice Palhares foi acordada no Hospital Sancta Maggiore com a notícia da morte de seu marido, Wilson Palhares, aos 86 anos. Jornalista e figura importante na oposição ao regime militar, Palhares tinha fortes raízes na Mooca, onde sua infância foi marcada por brincadeiras nas ruas e amizades que duraram toda a vida. Frequentemente visitava o bairro para relembrar o passado, lamentando as mudanças na paisagem que substituíam as antigas casas por torres de concreto. Essas visitas o ajudavam a manter o ânimo e refletir sobre o passar do tempo. Wilson começou a trabalhar cedo como office-boy, o que lhe permitiu explorar a cidade. No cursinho para a Cásper Líbero, conheceu Eunice Fruet, de Itu, com quem se casaria e teria dois filhos, Flávio e Marcos. Ingressou na faculdade em 1963 e, após o golpe de 1964, envolveu-se na oposição à ditadura, iniciando sua carreira jornalística na Folha de S.Paulo, onde cobriu movimentos estudantis e sindicais. Em 1965, juntou-se ao Jornal do Brasil e se destacou com uma postura crítica ao regime, cobrindo a política paulista. Em 1969, seu engajamento o levou à prisão pela Operação Bandeirantes, embrião do DOI-Codi, sob a acusação de pertencer à Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil. Após ser torturado e preso por meses, foi libertado em 1970 e retornou ao Jornal do Brasil, onde retomou suas atividades com apoio dos colegas. Palhares seguiu como repórter e, pouco depois, ingressou na Editora Abril como editor de política internacional e, mais tarde, colaborador da revista Playboy. Posteriormente, na Exame, foi enviado à China para documentar as mudanças promovidas por Deng Xiaoping. Sua reportagem pioneira analisou as reformas econômicas que abriam o país ao consumo capitalista, mesmo sob o controle do Partido Comunista, e ele previu que esse momento representava “uma pausa que refresca” no caminho do socialismo. Seu trabalho foi um marco no entendimento das transformações que a China viveria nas décadas seguintes. Cansado das noites de fechamento, fundou a Bloco de Comunicação, empresa de assessoria e projetos de mídia, e criou a revista EmbalagemMarca, referência no setor de embalagens, introduzindo o Prêmio EmbalagemMarca para destacar inovações da área. Com curiosidade e humor mordaz, Palhares era leitor assíduo de Dom Quixote e, na juventude, chegou a escrever poesia na Cásper Líbero, onde ganhou o apelido de Nicodemo, dado por seu colega Josué Machado. Seu sarcasmo permaneceu intacto até o fim: dois dias antes de morrer, ao ser perguntado por seu filho Marcos sobre como estava, ele apontou o polegar para baixo e respondeu: “Estou fodido.” Palhares deixa um legado de coragem, paixão pelo jornalismo e compromisso com a verdade, marcando o jornalismo brasileiro com sua postura crítica e irreverente, uma trajetória singular que uniu a luta pela liberdade e a defesa dos direitos fundamentais. (*) Luiz Antônio Maciel, 81 anos, jornalista profissional formado pela Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, em 1965. Começou a carreira como noticiarista da Rádio Jornal do Brasil, em São Paulo, em 1965. Depois, já na redação da sucursal de São Paulo do Jornal do Brasil, foi repórter, pauteiro, chefe de reportagem e secretário de Redação. Em 1974, começou como redator de Internacional do Jornal da Tarde, e subeditor, passando depois para a Editoria de Economia, onde foi subeditor e editor. Em 1896, transferiuse para a revista Playboy, como editor especial encarregado de reportagens e das entrevistas mensais. A partir de 1989 trabalhou como editor e redator da revista Guia Rural, da Editora Abril, depois exerceu as mesmas funções na revista Globo Rural, da Editora Globo, foi editor especial da Revista Imprensa e por duas vezes trabalhou na Gazeta Mercantil, como redator de revistas e depois como subeditor de Informática. Participou da experiência pioneira de criação de um dos primeiros sites jornalísticos sem vínculo com a mídia tradicional, o Panorama Brasil, que posteriormente se fundiu com o Diário do Comércio e Indústria (DCI). Encerrou a carreira no Diário do Comércio, da Associação Comercial de São Paulo, onde trabalhou por dez anos, como editor de Economia e pauteiro da Editoria de Política. Wilson Palhares, o sarcástico Por Luiz Antônio Maciel (*) Capa de Exame com a reportagem de Palhares NdaR: Este texto foi resumido com o auxílio do ChatGPT. Confira a íntegra no Portal dos Jornalistas. Wilson Palhares 2
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