Jornalistas&Cia 1486

Maria Ressa falando na Trust Conference (Foto: divulgação TRF) Dá para desistir das redes sociais atuais? Tecnologias deliberativas podem ser o caminho para conversas reais sem lucro e sem ódio A jornalista filipina Maria Ressa, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2021, está convicta de que não é uma utopia parar de esperar “que as Big Techs finalmente cumpram suas promessas de que se autorregularão” e desistir das redes sociais controladas pelas grandes plataformas de mídia digital. Co-fundadora e editora do site de notícias Rappler, ela deposita esperanças na construção de ‘tecnologias deliberativas’ – um conjunto de ferramentas digitais capaz de permitir que os usuários conversem uns com os outros a partir de seus interesses, sem terem seus dados vendidos ou serem expostos a discurso de ódio e desinformação. O aplicativo Rappler Communities, baseado nesse conceito, foi lançado em dezembro de 2023, construído no protocolo de código aberto Matrix. Ressa espera que até as eleições de 2025 nas Filipinas as ferramentas estejam em um nível que permita que "pessoas reais tenham conversas reais, sem manipulação para obtenção de lucro" Exemplo de coragem por sua luta para resistir a uma avalanche de processos judiciais movidos durante o governo do expresidente Rodrigo Duterte, que chegaram a levá-la para a prisão, a jornalista é uma das críticas mais eloquentes da influência das redes sociais na sociedade, sobretudo na política. Conversando com o MediaTalks antes de subir ao palco da Trust Conference, ela quis saber como estava a situação no Brasil após a mudança de governo. E comentou que o problema de desertos de notícias no Brasil é semelhante ao que acontece em seu país. Maria Ressa | Jornalista Prêmio Nobel da Paz 2021 Ressa abriu sua participação no evento respondendo a uma pergunta provocativa: se achava que a democracia estava à beira de um precipício, como havia previsto há dois anos. Ela respondeu que sim – mas com um toque de otimismo: A situação está ainda pior do que há dois anos. O ódio que circula nas mídias sociais virou tudo de cabeça para baixo. Mas se reconhecermos a situação, é possível fazer algo para mudar." Ressa disse que a desinformação busca travar o engajamento cívico, fazendo com que as pessoas duvidem dos fatos, criando desconfiança para que a sociedade não se mobilize. Mas o ponto alto foi sua crítica ao sistema atual, que estimula o pior jornalismo: Temos de competir num ambiente que recompensa o pior jornalismo, o que engaja mais, o que levou à febre do clickbait. Nesse cenário, esperar que os jornalistas resolvam o problema não é realista. Precisamos ganhar dinheiro, porque se não o fizermos, perdemos nossa independência. Mas como convencer os grandes investidores a investir em jornalismo? Porque se o jornalismo morre, a democracia morre." Veja a matéria na íntegra na versão completa do Especial

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