Jornalistas&Cia 1503

Especial Manchete ANOS foi reduzido à metade no fim de 1956, mas, sem qualquer mágoa, Braga seguiu colaborando por anos a fio com os Bloch. “Foi em Manchete que ele publicou, em janeiro de 1958, Ai de ti, Copacabana!, uma de suas mais célebres crônicas”, diz Muggiati. O título não tardou a se firmar no mercado. Com prestígio literário de sobra e vendas em alta (de 1,14 para 2,67 milhões de exemplares anuais entre 1952 e 1953 1), Manchete ganhou ainda qualidade visual a partir da inauguração, em 1957, do moderno e robusto parque da Gráfica Bloch em Parada do Lucas, Zona Norte do Rio, capaz de imprimir 800 mil publicações diárias. A “pegada jornalística”, no entanto, ainda deixava a desejar na segunda metade dos anos 1950. A rigor, a cobertura só subira de temperatura durante a breve gestão de Hélio Fernandes (1920-2021). O irmão mais velho de Millor Fernandes (1923-2012) tornou-se o diretor responsável da revista em setembro de 1952. Sob o seu comando, a redação ganhou, em poucos meses, cerca de 40 profissionais de primeira linha, casos dos repórteres Newton Carlos (19272019), Araújo Neto (1938-2012) e Carlos Alberto Tenório (que acompanharia, no fim daquela década, a escalada dos guerrilheiros cubanos rumo ao poder), dos fotógrafos Salomão Scliar (1925-1991) e Yllen Kerr (1924-1981), e do pintor Iberê Camargo (1914-1994). Essa jovem guarda foi responsável, entre outros trabalhos, por reportagens de fôlego e corajosas como Ruth de Souza, a estrela negra (edição 56, de 16 de maio de 1953), de Neli Dutra, com fotos de Scliar; Mundo novo cavando cifrões (edição 49, de 28 de março de 1953), na qual Tenório e o fotógrafo Antônio Rocha mostraram o trabalho infantil no Rio; e quatro matérias sobre a miséria no sertão nordestino e na periferia de Natal produzidas por José Carlos de Oliveira (1934-1986) e Kerr, em março de 1953. “[Manchete] conquistou – graças à direção do jornalista Hélio Fernandes e à sua equipe redacional e técnica – a posição de melhor das nossas revistas semanais”, publicou, em 19 de abril de 1953, o Diário Carioca, que voltaria a elogiar Fernandes na seção Nós aplaudimos, de 20 de setembro daquele ano: “O jornalista organizou uma equipe de gente moça, descobriu novos redatores e fotógrafos, atualizou os métodos da reportagem e modernizou a paginação em cores”. Os aplausos do matutino do Rio não bastaram, contudo, para livrar Fernandes de seu “pecado original” em Manchete. Ao assumir a revista, ele avisara seus patrões que, para trabalhar direito, não queria 1 − A janela do Russel, de José Esmeraldo Gonçalves e Roberto Muggiati, em Aconteceu na Manchete – As histórias que ninguém contou (vários autores, Desiderata, 2008). Ruth de Souza, a estrela negra (edição 56)

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