Jornalistas&Cia 1503

Especial Manchete ANOS vê-los zanzando pela redação. Não se sabem detalhes a respeito, mas o fato é que o troco foi dado pouco mais de um ano depois. “Os irmãos disseram ao Hélio: ‘Quer dizer que aqui não pode entrar Bloch?! Pois saiba que quem não pode entrar aqui é Hélio Fernandes! Fora!’. Eles liquidaram a galinha de ovos de ouro em razão de seu temperamento eslavo”, diz Muggiati. Quando não tinham um alvo em comum, Arnaldo, Boris e Adolpho, geniosos ao extremo, brigavam entre si. Não por acaso, ganharam de Otto Lara Resende (1902-1992), diretor de redação de Manchete entre julho de 1954 e dezembro de 1956, a alcunha de Irmãos Karamabloch, em referência aos manos Dimitri, Ivan e Alexei, do romance Os irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). No caso dos Bloch, as arengas eram dignas de comédias de pastelão. “Certa vez, um deles apresentou aos irmãos, todo orgulhoso, um lote de máquinas de escrever novas que comprara por conta própria”, diz Muggiati. “Os outros dois não demonstraram, de início, irritação por não terem sido consultados a respeito do negócio e até elogiaram os equipamentos: ‘Belas máquinas!’, exclamaram. Em seguida, começaram a quebrá-las, atirando-as ao chão”. As mortes precoces de Arnaldo e Boris, em 1957 e 1959, respectivamente, deixaram Adolpho livre para tocar o barco do seu jeito. Numa aposta certeira, ele pinçou do expediente da revista o nome talhado para conduzir a redação. O escolhido foi o gaúcho Justino Martins (1917-1983), chefe do birô de Manchete em Paris desde 1954, que fora levado ainda garoto pelo amigo, conterrâneo e futuro concunhado Érico Veríssimo (1905-1975) da Cruz Alta natal para Porto Alegre, onde logo se destacou na Revista do Globo. Justino virou editor da publicação aos 20 anos e iniciou, no fim da década de 1940, um longo “exílio” na capital francesa, como correspondente. “Além de textos, Justino providenciava fotos com a sua Rolleiflex”, lembra Muggiati. “Em 1956, ele brilhou ao promover e registrar o encontro de Pablo Picasso e Brigitte Bardot no ateliê do artista, em Cannes”. “Índio”, como Justino era conhecido, tomou posse em abril de 1959 para ganhar a fama de um dos maiores revisteiros do País e atazanar Adolpho. Com a língua solta, ele criticou abertamente, por exemplo, as muitas matérias que o patrão pedia sobre as obras de construção de Brasília, classificando-as como “marretas”; ou seja, matérias pagas. Quando Adolpho voltou da inauguração da atual Capital Federal, em 1961, Justino caprichou na ironia: “Tu devias aprender um pouco de etiqueta, pô! Não se usa sapatos de furinhos com fraque e cartola, tchê!”, disparou. Justino Martins Arquivo pessoal

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