Especial Manchete ANOS Atrevido e competente, o novo diretor não tardou a mostrar serviço em Manchete. Um dos primeiros marcos da sua gestão foi a reportagem Não matem meu cachorro!, de Heitor Kowyama, que apresentava, na página dupla de abertura, três fotos da “prisão” em flagrante, pela “carrocinha” de São Paulo, do cãozinho Piloto, para desespero de seu dono, o garoto Fernando. As imagens publicadas na edição 399, de 12 de dezembro de 1959, foram reproduzidas em dezenas de periódicos do Brasil e até do exterior, casos de Paris Match, Look e Life, e renderam ao fotógrafo Sérgio Jorge (1937-2020), em 1960, o primeiro Prêmio Esso de Fotojornalismo. “A revista engrenou e ganhou a sua cara definitiva nas mãos de Justino”, diz Muggiati. “Como era um produto caro, Adolpho, sempre atento às receitas de publicidade, calibrava as tiragens na faixa de 200 mil a 220 mil exemplares. Ele poderia, tranquilamente, ir muito mais longe e imprimir e vender até 500 mil cópias, mas aí começaria a perder dinheiro”. Escorado no sucesso de Manchete, o empresário que, segundo ele próprio, “tinha tinta nas veias”, encomendou a Oscar Niemeyer (1907-2012) o projeto de uma nova sede para o grupo (o Edifício Manchete, inaugurado em 1965), no bairro da Glória, região central do Rio, e diversificou os negócios em seu ramo de atuação. O portfólio da casa, que contava ainda, desde os anos 1950, com as femininas Joia e Sétimo Céu, ganhou Fatos e Fotos (1961), Pais & Filhos (1968), Ele Ela (1969), Desfile (1969), Tendência (1973) e Revista Geográfica Universal (1974). Além disso, a Bloch começou a marcar presença no mercado de livros com obras de autores de prestígio, como Cecília Meireles (Inéditos Cecília Meireles, 1967), Luiz da Câmara Cascudo (Coisas que o povo diz, 1968), Pier Paolo Pasolini (A hora depois do sonho. 1968) e Arthur Miller (O preço, 1969). O temperamento à la Karamabloch de Adolpho era, àquela altura, a única ameaça a Manchete, que fechou 1967 com tiragem total de 11 milhões de exemplares e apenas 8,37% de encalhe 2. No segundo semestre de 1969, o dono do pedaço − que, como vimos, tinha diferenças com Justino − resolveu esvaziar a bola de seu cordial desafeto e o transferiu para a recém-lançada Desfile, deixando a semanal sob os cuidados de Zevi Ghivelder. Como a troca não apresentou o resultado esperado, Justino foi chamado de volta pelo patrão para pilotar Manchete, mas não deixou barato: inventou ter 2 − Ibidem. Edifício Manchete https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/deed.en
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