Especial Manchete ANOS recebido uma generosa oferta para trabalhar em Paris como relações públicas da estilista e perfumista Germaine Émilie Krebs (1903-1993), a Madame Grès, que era sua amiga. “Desconfiado, Adolpho ligou para Madame Grès, que confirmou a tal ‘proposta’ Resultado: além de um aumento, ele teve de pagar a Justino um adicional mensal de mil dólares em espécie, que eram entregues na redação, à luz do dia, por um funcionário da tesouraria”, conta Muggiati. Superada a turbulência, Manchete retomou a sua trajetória ascendente e deu início, a partir da edição 1.071, de 28 de outubro de 1972, a uma longa sequência de gols de letra(s). O ponto de partida foi a pauta sobre uma efeméride, os 70 anos do lançamento de Os sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), executada em 11 páginas pelo repórter Dirceu Soares e o fotógrafo Heitor Hui. A dupla concentrou a apuração na cidade onda a obra foi escrita, a pequena São José do Rio Pardo (SP), que conta com a Casa Euclidiana, detentora do maior acervo sobre a vida e obra do autor. “Justino gostou do material e teve uma ideia: ‘Poxa, vamos transformar isso numa série!’. Foi assim, num repente, que surgiram As obras-primas que poucos leram”, diz Muggiati. A coleção, que se estendeu até 1977 e seria retomada no trecho final da década de 1990, apresentou aos leitores clássicos de ficção e não ficção nacionais e universais: Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (1908-1967); Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616); Angústia, de Graciliano Ramos (1892-1953); A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud (1856-1939); O elogio da loucura, de Erasmo de Roterdam (1466-1536) etc. O time de redatores era igualmente de primeira: autor da monumental História da literatura ocidental, Otto Maria Carpeaux (1900-1978) assinou cerca de 55 ensaios sobre, entre outras obras, Romeu e Julieta (William Shakespeare), Madame Bovary (Gustave Flaubert) e O castelo (Franz Kafka); Antônio Houaiss (1915-1999) escreveu sobre Ulysses (James Joyce), romance que ele traduzira para o português em 1966; Haroldo de Campos (1929-2003) tratou de Macunaíma, de Mário de Andrade; Paulo Mendes Campos (1922-1991), de Orlando (Virgina Woolf), Em busca do tempo perdido (Marcel Proust), Coração das trevas (James Conrad), A terra desolada (T. S. Eliot) etc. “Depois da falência da Bloch, a jornalista e escritora Heloísa Seixas sugeriu e organizou para a editora Record uma antologia em quatro volumes de As obras-primas que poucos leram, que foi lançada nos anos 2000”, informa Muggiati. “Os dois textos que preparei para a série – sobre O sol também se levanta, de Hemingway, e A fazenda africana, de Isak Dinesen – foram incluídos”. 70 anos do lançamento de Os sertões, de Euclides da Cunha
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