Jornalistas&Cia 1510

Edição 1.510 - pág. 33 ANOS A crise no coração da repressão do regime forçou a ida de Geisel a São Paulo na quinta-feira, 30, véspera do tenso culto ecumênico na catedral da Praça da Sé, centro maior da Igreja Católica na capital. O aparelho repressivo não queria nem mesmo investigar a morte do jornalista. Confrontado pelos generais Ednardo d’Avila Mello, comandante do II Exército, e pelo general Sylvio Frota, ministro do Exército, Geisel bateu pé pela investigação de um inquérito policialmilitar, o IPM. “Não pode haver crime, ou morte, dentro de uma organização militar sem ser apurado”, trovejou o presidente, segundo Elio Gaspari, em A ditadura encurralada. Rendido, naquele mesmo dia Ednardo informou, em nota, a instauração de um IPM para “apurar as circunstâncias em que ocorreu o suicídio do jornalista Vladimir Herzog”. O detalhe bizarro é que antes mesmo de começar, o IPM já apontava sua teimosa conclusão dos fatos ainda não apurados: “suicídio”. A suspeita precipitação não incomodou Geisel, que parecia no início interessado na correta apuração do crime. Duas décadas depois, em 1997, Geisel definiu tudo aquilo como um “probleminha”: Luiz Cláudio Cunha Geraldo Magela/Agência Senado n Continuamos a reproduzir − em capítulos, por causa do tamanho − texto que Luiz Cláudio Cunha (cunha. [email protected]) publicou no Observatório da Imprensa em homenagem a Vladimir Herzog, cuja morte nos porões da ditadura completa 50 anos em setembro próximo. A primeira parte está em J&Cia 1.509. Cunha era chefe da sucursal de Veja em Porto Alegre e tinha 24 anos em dezembro de 1975, quando recebeu de Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a tarefa de coordenar a coleta de assinaturas no Sul para o manifesto contra o IPM do “suicídio” de Herzog. u Autor de Operação Condor: O sequestro dos uruguaios, Cunha trabalhou em diversos outros veículos, como os jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Correio Braziliense, Zero Hora, Diário da Indústria e Comércio, e as revistas IstoÉ, Afinal e Playboy. Naqueles tempos em que mataram Vlado (parte 2) O “probleminha” da tortura O general Geisel e seu “probleminha”: Herzog e a simulação de suicídio montada pelo DOI-CODI Ricardo Chaves/Veja Instituto de Criminalística/SP 2

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