Edição 1.511 - pág. 50 ANOS Marinho, Brito e Chateaubriand: O Globo, JB e Associados, adversários, mas unidos em rede pelo golpe No Rio de Janeiro, antes mesmo do golpe, a conspiração conseguira unir os três grandes concorrentes da imprensa carioca: O Globo, o Jornal do Brasil e os Diários Associados.[4] Roberto Marinho, Nascimento Brito e Assis Chateaubriand fundaram, em 26 de outubro de 1963, a cinco meses da derrubada de João Goulart, a Rede da Democracia, que ecoava em transmissão conjunta das rádios Jornal do Brasil, Globo e Tupi uma catilinária em cadeia nacional contra a “ameaça vermelha” e a iminente tomada do poder pelos comunistas ligadas ao presidente Jango.[5] No dia seguinte ao golpe vitorioso, 2 de abril de 1964, o Globo de Roberto Marinho festejava em editorial a intervenção militar: “Ressurge a Democracia!”. Em um trecho, tentava dar o amparo do Art. 176 da Constituição para o uso do arbítrio, definindo dessa forma as Forças Armadas: “São instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI”. Assim mesmo, em maiúsculas de tom quase verde-oliva, para camuflar a violência e vender a ideia de que o forada-lei era o presidente Goulart. O Jornal do Brasil conseguiu ser mais rápido que O Globo no gatilho da adulação. Na véspera, 1º de abril, o jornal de Nascimento Brito saudou a vitória da democracia “contra a ameaça de uma república sindicalista” ou “a implantação de um regime comunista”, o que dava no mesmo. O JB já dava o movimento militar como vitorioso, enquanto os tanques dos generais Olympio Mourão Filho e Carlos Luís Guedes ainda rodavam de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro. No dia seguinte, 2 de abril, os dois jornais trombaram no seu entusiasmo. “Fugiu Goulart e a democracia está sendo restabelecida”, mentiu O Globo, desmentido na manchete daquele dia do Jornal do Brasil: “Goulart resiste no sul e o Congresso empossa Mazzilli”.[6] O apoio ao golpe no JB não era restrito aos donos da empresa, condessa Pereira Carneiro e seu genro, Nascimento Brito. A cúpula do jornal – Alberto Dines (editor-chefe de 1962 a 1973), Carlos Lemos (chefe de redação), Wilson Figueiredo (editorialista) e Luiz Orlando Carneiro (chefe de reportagem) –, responsável pelo que era publicado, n Continuamos a reproduzir − em capítulos, por causa do tamanho − texto que Luiz Cláudio Cunha (cunha.luizclaudio@gmail. com) publicou no Observatório da Imprensa em homenagem a Vladimir Herzog, cuja morte nos porões da ditadura completa 50 anos em setembro próximo. A primeira parte está em J&Cia 1.509 e a segunda em J&Cia 1.510. Cunha era chefe da sucursal de Veja em Porto Alegre e tinha 24 anos em dezembro de 1975, quando recebeu de Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a tarefa de coordenar a coleta de assinaturas no Sul para o manifesto contra o IPM do “suicídio” de Herzog. u Autor de Operação Condor: O sequestro dos uruguaios, Cunha trabalhou em diversos outros veículos, como os jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Correio Braziliense, Zero Hora, Diário da Indústria e Comércio, e as revistas IstoÉ, Afinal e Playboy. Luiz Cláudio Cunha Geraldo Magela/Agência Senado Naqueles tempos em que mataram Vlado (parte 3) União na conspiração Arquivo/Agência O Globo
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