Edição 1.511 - pág. 51 ANOS Dines, Lemos, Figueiredo e Carneiro, a cúpula do JB em 1964: apoio ao golpe também festejou a derrubada de Jango, em franca oposição à redação, na maioria integrada ou por simpatizantes do governo ou militantes da esquerda.[7] Daqueles quatro, doze anos depois, só aparece o nome de Alberto Dines no manifesto dos 1004 jornalistas contestando o “suicídio” de Herzog. Uma década após o golpe, Alberto Dines era um bravo defensor de Vladimir Herzog contra as perfídias cometidas por jornalistas a serviço dos órgãos de repressão, numa campanha sórdida de delação contra a direção de Jornalismo da TV Cultura de São Paulo, que Vlado assumira em setembro de 1975, quase dois meses antes de morrer sob torturas no II Exército. Um colunista do jornal Shopping News, Cláudio Marques, que ecoava notas e rumores oriundos dos porões militares, costumava fazer piadas sobre os hóspedes forçados do “Tutoia Hilton”, referência maliciosa ao endereço do DOI-Codi da rua Tutoia. Outro desafeto ostensivo de Vlado e da TV Cultura era Lenildo Tabosa Pessoa, militante extremista da direita católica e colunista do Jornal da Tarde. Os torpedos canalhas dos dois jornalistas eram regularmente replicados, de forma combinada, por dois deputados da Arena, o partido da ditadura, na Assembleia paulista: Wady Helou e José Maria Marin. Na sua coluna semanal Jornal dos Jornais, na Folha de S.Paulo, Dines era uma trincheira permanente de defesa de Vlado contra os libelos maldosos da dupla MarquesPessoa e seus aliados. Um outro grande jornal carioca da época, o Correio da Manhã, conhecido pela histórica tradição como liberal e independente, surpreendeu por sua meteórica adesão na hora crucial do golpe. Três anos antes, o Correio apoiara a posse de Jango, contestada pelos ministros militares diante da renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961. O jornal sustentou a posse de Juscelino Kubitschek em 1955, desafiada por focos militares de amotinados, e criticou a construção de Brasília, maior bandeira de JK. Mas, nas 48 horas decisivas para a derrubada de Jango, o jornal produziu dois sucessivos editorais de impacto no vórtice da crise. O primeiro, “Basta!”, saiu no 31 de março. O segundo, “Fora!”, no dia seguinte, 1° de abril, quando Jango ainda permanecia presidente no Palácio Laranjeiras, no Rio. Dali, só por volta das 13h, Jango tomou o rumo da Base Aérea do Galeão e, de lá, voou para Brasília. (continua na próxima edição) [5] MOTTA, Cézar. Até a última página. Uma história do Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, ed. Objetiva, 2018, p.133-134. [6] Na madrugada de 2 de abril, Jango ainda estava em Porto Alegre, discutindo a reação ao golpe, que não aconteceu. A falcatrua histórica só foi corrigida pelo Congresso 50 anos depois, em novembro de 2013, quando aprovou resolução dos senadores Pedro Simon (PMDB) e Randolfe Rodrigues (PSOL) revogando o conluio de militares e parlamentares que votaram apressadamente a vacância da Presidência quando Jango ainda se encontrava em solo brasileiro. Assim, foi devolvido simbolicamente o mandato usurpado a Jango, rebaixando o general Castelo Branco à condição rasa de comandante golpista. [7] MOTTA, op. cit., p. 136.
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