Edição 1.515 - pág. 18 ANOS Simpar mereciam a nossa atenção e espaço em nossas publicações”. Os debatedores conversaram ainda sobre o financiamento do jornalismo de qualidade, e como, muitas vezes, o conteúdo editorial entra em confronto com interesses empresariais e de patrocinadores. Ana declarou que é um problema que envolve não só os jornalistas, mas também quem consome as notícias: “A questão de patrocínio é complicada. Ao mesmo tempo que os veículos precisam de dinheiro, precisam sobreviver − até porque é muito difícil fazer jornalismo de qualidade, com apurações profundas, sem verba −, precisamos tomar muito cuidado com o espaço que damos a empresas nocivas, que apoiam e/ou divulgam fake news ou que prejudicam de alguma forma a população. Por outro lado, é preciso estimular as pessoas a terem consciência sobre onde eles estão buscando informações, pensar ‘onde estou indo, acessando, para me informar? Será que nesse site tem patrocínio de empresas duvidosas, que espalham mentiras?’ São algumas questões muito importantes para os próprios leitores pensarem”. A questão financeira também atinge a entrada de jovens jornalistas no mercado. Para a diretora do Correio Braziliense, a falta de financiamento e o fechamento de publicações renomadas decorrentes dessa perda de verba acabam desincentivando as novas gerações interessadas no jornalismo: “Como vamos atrair os jovens sem dinheiro, sem qualquer tipo de atrativo, para que venham trabalhar conosco? Como vamos elaborar e realizar cursos preparatórios de qualidade para eles, se não temos dinheiro? Não quero de forma alguma desanimar os presentes aqui neste importante evento, mas é um ponto para refletirmos, e a cada dia fica mais difícil”. Sergio foi além: “Acredito que nós, como imprensa, estamos muito presos a interesses empresariais. No caso do jornalismo ambiental, por exemplo, existe o greenwashing, entre vários outros fatores. A cobertura de clima, de grandes catástrofes cresceu significativamente nos últimos anos, e isso é ótimo. Mas nós ainda não medimos os impactos de fato. Tivemos várias tragédias recentemente, envolvendo empresas e marcas gigantescas, casos de Mariana e Brumadinho com a Vale, por exemplo. Nós não damos a devida importância ao que está por trás dessas grandes empresas. Gosto de brincar dizendo que o jornalismo é leão contra empresas públicas e ‘gatinho’ contra as grandes empresas privadas. É preciso questionar, mostrar o que está por trás, independentemente de patrocínios, de interesses financeiros. Devemos sempre pensar: o que podemos fazer para apoiar, ajudar, financiar jornalismo do setor privado sem interesses pessoais interferirem no conteúdo? Essa é uma grande questão”. Nesse contexto, Marília comentou sobre o caso específico da TV Cultura: “As pessoas precisam entender que a Cultura é uma TV pública e não uma TV governamental. Só que, em que pese essa característica, temos uma dependência imensa
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