Edição 1.515 - pág. 51 ANOS Luiz Cláudio Cunha Geraldo Magela/Agência Senado n Continuamos a reproduzir − em capítulos, por causa do tamanho − texto que Luiz Cláudio Cunha (cunha.luizclaudio@gmail. com) publicou no Observatório da Imprensa em homenagem a Vladimir Herzog, cuja morte nos porões da ditadura completa 50 anos em setembro próximo. As outras partes estão em J&Cia 1.509, 1.510, 1.511, 1.512, 1.513 e 1.514. Cunha era chefe da sucursal de Veja em Porto Alegre e tinha 24 anos em dezembro de 1975, quando recebeu de Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a tarefa de coordenar a coleta de assinaturas no Sul para o manifesto contra o IPM do “suicídio” de Herzog. u Autor de Operação Condor: O sequestro dos uruguaios, Cunha trabalhou em diversos outros veículos, como os jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Correio Braziliense, Zero Hora, Diário da Indústria e Comércio, e as revistas IstoÉ, Afinal e Playboy. A articulação dos empresários com os militares era feita pelo Grupo de Levantamento da Conjuntura (GLC) do IPES, comandado pelo general Golbery, que atuava sobre o I (Rio) e III (Porto Alegre) Exércitos. A “ordem de serviço com calendário” do GLC, que definia a estratégia de ação, tinha uma edição limitada de 12 exemplares, que não eram registrados nas atas do IPES. A equipe de Golbery distribuía nos quartéis uma circular bimestral mimeografada, sem citação da fonte, avaliando a atividade “comunista” no País, apontando o dedo para subversivos infiltrados no governo e mapeando suas ações. Só no Rio de Janeiro o GLC de Golbery tinha três mil telefones grampeados [15]. O grupo do general ocupava quatro das 13 salas que o IPES havia alugado no 27° andar do Ed. Avenida Central, na av. Rio Branco, no centro da cidade. A conta do telefone era faturada em nome do general da reserva Henrique Geisel, irmão de Ernesto. O GLC escrutinava a produção diária da imprensa do País, um total de 14 mil edições no ano, e produzia mensalmente cerca de 500 artigos, disseminados pelos jornais ou divulgados em forma de palestras. Nesse trabalho era fundamental manipular a expressão da sociedade. O objetivo central do Grupo de Opinião Pública (GOP) do IPES era disseminar seus objetivos na imprensa falada e escrita. Dissimulado, o grupo evitava o nome “opinião pública”, preferindo as expressões “divulgação” e “promoção”. O GOP era “a base de toda a engrenagem”, definia o general Heitor Herrera, um dos líderes do IPES. José Luís Moreira de Souza, dono da Denison Propaganda, dizia que “conquistar a opinião pública” era a essência da ação política do grupo. O principal articulador do GOP era um ex-comissário de polícia, José Rubem Fonseca, que nas décadas seguintes se consagraria como o maior contista vivo do País, ganhador em 2003 do Prêmio Camões, o Nobel dos escritores de língua portuguesa. Rubem Fonseca coordenava, entre outros, jornalistas no Rio, como Glauco Carneiro e Wilson Figueiredo (o editorialista golpista do JB), e em São Paulo, como Ennio Pesce [16] e Flávio Galvão, estrelas do Estadão. Intelectuais de respeito estavam no balaio de Fonseca e do IPES: a escritora Nélida Piñon (secretária da entidade no Rio), o cronista Odylo Costa, filho, o poeta Augusto Frederico Schmidt e a romancista Rachel de Queiroz – todos irmanados na agitação golpista em favor do general Castello Branco, primo de Rachel. [17] Naqueles tempos em que mataram Vlado (parte7) Intelectuais a soldo Rubem Fonseca, Nélida Piñon e Rachel de Queiroz: escritores assalariados pelo golpe Arquivo Estadão Golbery e o QG do golpe, no 27o andar do Avenida Central: 3 mil grampos de telefone só no Rio Arquivo JB [15] DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis, RJ: ed. Vozes, 1981, p. 188. [16] Ennio Pesce é um dos 1004 signatários do manifesto de 1976 contra o IPM de Herzog. [17] DREIFUSS, op. cit., p. 188
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