Jornalistas&Cia 1525

Edição 1.525 - pág. 33 ANOS Nascido no antigo Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Resende, Antônio Franco de Oliveira (1906-1976), o lendário Neném Prancha, tornou-se o filósofo das praias de Copacabana e treinador das divisões de base do Botafogo. Foi ele quem descobriu, naquelas areias, à altura do Posto 4, no começo da década de 1940, o centroavante Heleno de Freitas (1920-1959) e, quase 30 anos depois, o lateral-esquerdo Júnior. As máximas de Neném Prancha sobre futebol ficaram famosas, divulgadas por dois ilustres jornalistas botafoguenses: o acreano Armando Nogueira (1927-2010) e o gaúcho João Saldanha (1917-1990). Uma de suas célebres declarações apregoava que o goleiro deve andar sempre com a bola, mesmo quando vai dormir − completando: “Se tiver mulher, dorme abraçado com as duas”. Conheci diversos portugueses, em São Paulo e em Paris, casados ou solteiros, que, amantes do jornal A Bola, dormiam, muitas vezes, abraçados com seu exemplar, lendo e relendo as crônicas dos jogos do então superpoderoso Benfica. O mais popular dos cotidianos de Portugal foi criado em 1945 por um grupo de comunistas, em pleno salazarismo, entre eles, Cândido de Oliveira (1896-1958), que, como João Saldanha, era, simultaneamente, jornalista e técnico – tendo chegado a ser treinador do Flamengo em 1950. O querido A Bola comemora neste 2025 os 80 anos de fundação − e, para além de ser o campeão de leitura dos diários lusitanos, é uma das publicações n A história desta semana é novamente uma colaboração de Albino Castro (albinocastro@ hotmail.com), ex-O Globo, SBT, EBC, Gazeta-SP, Cultura e Telemontecarlo, entre outras. Atualmente é diretor da Italy & Italy Apoio em Comunicação e titular da coluna Mundos ao Mundo no jornal semanal luso-brasileiro Portugal em Foco. A propósito dos 80 anos de A Bola esportivas de referência do mundo. Tão prestigiosa quanto o espanhol Marca, de Madri, o francês L’Equipe, de Paris, o argentino Olé, de Buenos Aires, e o italiano La Gazzetta dello Sport, de Milão. Um dos colunistas mais lidos de A Bola, com a seção Brasil, Brasileiro, foi meu saudoso amigo Duda Guennes (1937-2011), um pernambucano de Recife, gloriosamente comunista e benfiquista − embora, deste lado do Atlântico, fosse adepto de dois tradicionais clubes: Náutico e Fluminense. Foi justamente Guennes quem me apresentaria a Eusébio, num domingo à noite, próximo a um “inferninho” lisboeta, em 1977, à Rua da Travessa da Mãe d’Água, no Bairro Alto. O craque estava já no final da carreira e atuava pelo Beira-Mar, de Aveiro, à época na Primeira Divisão do Campeonato Português. Combinei, informalmente, uma reportagem com ele para o diário O Globo, do qual era o correspondente em Madri, porém, infelizmente, nos desencontramos e nunca consegui realizar a entrevista. Considero o Pantera Negra, até hoje, o maior jogador lusitano de todos os tempos. A Bola, assim como Eusébio, viveu um longo e extraordinário período, quando, a partir dos anos 1960, o futebol português deixou de ser praticado com a “bola quadrada”, como se ironizava no Rio de Janeiro, e o Benfica passou a ser tão relevante quanto o Real Madrid, do argentino Don Alfredo Di Stefano (1926-2014), o Milan, de Gianni Rivera, Trapattoni, Maldini (pai) e dos brasileiros Dino Sani, Altafini e Amarildo, e mesmo o Santos de Pelé e companhia. O grande apogeu foi na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, quando o selecionado das cinco quinas, treinado pelo luso-carioca Oto Glória (1917-1986), conquistou o terceiro lugar e, na fase de grupos, ganhou do Brasil, com Pelé em campo, por 3 a 1, no Goodson Park, o velho estádio do Everton, em Liverpool. Nestas oito décadas de história, com a perspicácia de Guennes, no seu Brasil, Brasileiro, também A Bola difundiu algumas frases do irreverente Neném Prancha − segundo o qual pênalti é uma coisa tão determinante que deveria ser batido pelo próprio presidente do clube. Ou uma outra ainda mais óbvia e inesquecível: o importante é o principal, o resto é secundário.

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