Edição 1.535 - pág. 10 ANOS ESPECIAL Gabriel Romeiro, que mais tarde viria a ser presidente do Sindicato, estava lá. E acrescenta que “a mobilização dos jornalistas começou de forma bem espontânea, mas é preciso levar em conta alguns fatores que a explicam. Em primeiro lugar, as redações se encontravam na época num alto grau de mobilização, porque sete meses antes do assassinato de Vlado tinha havido eleições no sindicato e nós conseguimos derrubar uma corrente pelega que dominava a entidade havia mais de 10 anos. Foi eleita, então, em oposição aos pelegos, a diretoria presidida por Audálio Dantas. Para que isso acontecesse, já tinha havido muita mobilização das redações desde o ano de 1974. E, com a nova diretoria, vivíamos o início de uma nova era no sindicato, que tinha como uma das características justamente a mobilização. Além disso, o caso de Vlado foi mais um de uma série de prisões de jornalistas que vinham ocorrendo havia semanas. O ambiente estava ouriçado nas redações de São Paulo. Estive com Vlado várias vezes nesse período e ele estava muito preocupado. Temia que a qualquer hora chegasse a vez dele, porque era próximo de muitos dos presos”. Em meio a medo, tensão e o sentimento generalizado de que era preciso reagir, a diretoria do Sindicato convocou uma Assembleia Geral para a segunda-feira, 27 de outubro. Na pauta, as possibilidades de mobilização e reação. Enterro: mobilização silenciosa e coragem dos rabinos Mas o primeiro movimento, público e silencioso, foi no enterro do corpo de Vlado. Na manhã do dia 27, depois de um velório com centenas de pessoas, o féretro saiu em direção ao Cemitério Israelita do Butantã. “Não saberia dizer exatamente quantas pessoas foram”, diz Romeiro. “Mas guardo até hoje a imagem de um cortejo enorme de automóveis serpenteando pelas ladeiras do Morumbi no trajeto do velório do Hospital Albert Einstein para o Cemitério Israelita do Butantã. Acredito que foi a presença maciça de jornalistas que levou Audálio Dantas a convocar, logo que terminou o enterro do Vlado, uma assembleia para a noite daquele mesmo dia”. O próprio enterro foi também um ato de reação e denúncia. Pelos ritos judaicos, suicidas são sepultados em uma área à parte, junto aos muros dos cemitérios. Era o que a tradição religiosa impunha ao judeu Vladimir Herzog. Mas não foi o que aconteceu. Diante a evidente farsa montada no DOI-CODI, o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista, levantou a voz em nome da Justiça e bancou o sepultamento segundo os rituais da Lei Judaica. No livro comemorativo aos 85 anos da Chevra Kadisha, a Sociedade Cemitério Israelita que administra os campos santos da comunidade judaica em São Paulo, um depoimento de Henry Sobel recorda que houve questionamentos na comunidade e na imprensa de que o enterro teria contrariado os rituais da religião. Sobel, que no dia do enterro Elvira Alegre Audálio Dantas chora em silêncio no velório de Vlado
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