Edição 1.535 - pág. 11 ANOS ESPECIAL estava em compromisso no Rio de Janeiro, assegurou em entrevista dias depois que todos os rituais haviam sido cumpridos e que a versão do suicídio não correspondia à realidade. Segundo o rabino, em declaração à Chevra, “o enterro teve ampla repercussão na imprensa nacional e internacional, com questionamentos sobre os ritos. Quando voltei a São Paulo, assegurei à família que Herzog havia sido sepultado em estrito acordo com as Leis Judaicas”. O caso Vlado na mídia: silêncio e medo Enquanto a mobilização dos jornalistas ganhava corpo, com a adesão de pessoas e instituições como Dom Paulo Evaristo Arns e a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, o caso era praticamente ignorado na imprensa. Paulo Markun recorda, por exemplo, manchete da Folha da Tarde, “que comprava a versão de suicídio. A imprensa, em geral, não fez o trabalho dela e assumiu sem questionamento as informações da ditadura”. Na TV Cultura, o clima era o pior possível. Gabriel Priolli, que havia passado o fim de semana incomunicável, em Ilhabela, no litoral Norte de São Paulo, ao saber da notícia correu para a redação: “A gente tinha de botar o jornal no ar. Uma equipe estava fazendo a cobertura do caso e das reações que se sucederam, mas nada foi ao ar, com todo o material vetado pela censura”. Mas havia algumas exceções, como os jornais alternativos, que circulavam com dificuldade na época, perseguidos pela censura e asfixiados economicamente. E, na grande imprensa, houve a cobertura do jornal O Estado de S. Paulo. Quem acompanhou o caso foi o repórter Ricardo Kotscho, designado para a pauta pelo chefe de reportagem Clóvis Rossi. “Apesar da censura prévia, nossa orientação no Estadão era de cobrir os temas que poderiam incomodar a ditadura, apurar e escrever tudo e torcer para passar. Muitas matérias eram censuradas ou cortadas, mas a gente fazia um trabalho que depois ficou arquivado para documentar a história”, lembra Kotscho. Foi com essa orientação que ele se dirigiu à sede do Sindicato para cobrir a Assembleia do dia 27: “O auditório estava lotado de jornalistas, mas o único que estava ali a trabalho, como repórter, era eu”. O clima na Assembleia era tenso e havia divergências sobre o que fazer. Claudio Cerri se recorda de uma Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e Clarice Herzog com o filho Ivo em homenagem a Vlado em 1976 Ricardo Kotscho Brasil de Fato/YouTube
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