Edição 1.535 - pág. 14 ANOS ESPECIAL Marcelo Rittner, por D. Paulo Evaristo Arns e o pastor presbiteriano Jaime Wright – além de contar com um convidado no altar-mor: o arcebispo de Olinda e Recife, D. Helder Câmara. Cerca de 8 mil pessoas desafiaram a ditadura, comparecendo ao culto: ocuparam o interior da nave, as escadarias e a praça – era uma multidão silenciosa e indignada. Na mesma hora, no Rio de Janeiro, setecentos jornalistas lotaram o auditório da ABI, numa homenagem também silenciosa”. Foi D. Helder quem resumiu esse ato em uma frase: “Há momentos em que o silêncio fala mais alto”. E completou, dizendo a um jornalista que “hoje o chão da ditadura começa a tremer. É o começo do fim”. Segundo as historiadoras, D. Helder não se enganou. Mas há quem aponte outros eventos e fatos históricos que contribuíram para o fim da ditadura. É o caso do jornalista Ivan Seixas, autor do livro Contos Guerrilheiros, em que relata sua participação na luta armada, quando integrou a partir do fim dos anos 1960, ainda adolescente, o Movimento Revolucionário Tiradentes, responsável por uma série de ações de guerrilha urbana. Ao lado do pai, Joaquim Alencar de Seixas, Ivan foi preso, com 16 anos. No mesmo DOI-CODI onde mataram Vlado, ele viu seu pai sucumbir à tortura. Ivan ficou preso entre 1971 e 1976, em uma situação peculiar. Era menor de 18 anos quando detido. Sem um processo formal, ficou clandestino no sistema prisional, saindo do DOI-CODI, passando pelo presídio Tiradentes e pelo DOPS e finalmente na Casa de Custódia de Taubaté, onde não havia presos políticos. Seu caso foi denunciado internacionalmente e ficou conhecido como “a prisão do menor IAS”. Na opinião de Ivan, o caso Herzog teve repercussão ampla “por se tratar de um intelectual branco, de classe média e jornalista, mas não foi o estopim do fim da ditadura”. Na prisão, ele recebia visitas das irmãs e da mãe, que também haviam sido presas e torturadas. Eram ocasiões em que conseguia alguma notícia de fora, assim como nas conversas com carcereiros. “Foi dessa forma que soube do assassinato de Herzog, mas nada mudou para os presos políticos e para mim depois do ato na Sé”. Segundo Ivan, sua situação na prisão só foi resolvida em 1976, depois da morte do operário Manoel Fiel Filho, que aconteceu também no DOI-CODI e teve foto de suicídio forjada, assim como no caso Herzog. “Foi nesse momento que Geisel reagiu contra a linha dura, demitindo o comandante do II Exército, general Ednardo D´Ávila Mello, a quem já tinha dado um ultimato quando do caso Herzog e afastando o general Silvio Frota. A partir daí, em poucas semanas meu caso foi reaberto na Justiça Militar e acabei solto”, completa Seixas. Ricardo Kotscho acrescenta uma camada a essa discussão. Ela lembra que, após o caso Herzog, a censura prévia ao Estadão acabou, depois de quase uma década. “Com isso, começamos a publicar matérias mais críticas. Naquele tempo, fiz uma série de matérias sobre as mordomias no governo, que teve grande repercussão. Foi assim que recebi uma dica de pauta sobre um novo assassinato no DOI-CODI, nas mesmas circunstâncias da morte de Vlado. Só tinha o nome e a profissão. Fui atrás e levantei a história de Manoel Fiel Filho, que desta vez foi publicada Ivan Seixas hoje e na foto da ficha policial, aos 16 anos
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