Jornalistas&Cia 1535A

Edição 1.535 - pág. 9 ANOS ESPECIAL telefonema do cineasta João Batista de Andrade, já por volta da meianoite. Vlado estava morto. Fernando Morais, que no dia em que quase foi preso havia sido aconselhado por advogados a procurar abrigo, fora dormir na casa do fotógrafo Tomaz Farkas: “Foi ele quem me deu a notícia do assassinato. O choque foi tremendo. Em duas ocasiões eu trabalhara lado a lado com Vlado, em 1970 na TV Cultura e em 1974 na revista Visão. Mesmo tendo vivido situações extremas como repórter, estava tomado pelo terror, sem saber se ia para o exílio, se me entregava ou ficava na clandestinidade. Cheguei a ter passaportes para sair do Brasil, oferecidos pelo amigo Carlos Brickman. Acabei decidindo nem me exilar nem me entregar. Evaporamos, eu e minha mulher”. Quem também se recorda do clima tenso daqueles dias é a jornalista Marilia Assef: “Na época do assassinato de Vlado eu trabalhava como repórter na revista Manchete. Apesar de não ter tido problemas com a censura, por cobrir cultura, acompanhava, através de colegas, o que acontecia nas redações dos grandes veículos e temia pelo que acontecia no País. O assassinato de Herzog foi um choque de realidade, que acabou levando a sociedade a se manifestar contra aquele regime nefasto”. Medo e mobilização: o começo da inflexão da ditadura militar Telefonemas como o de João Batista de Andrade atravessaram a madrugada e o domingo. Jornalistas, ativistas, políticos, sindicalistas espalhavam a trágica notícia, com uma pergunta recorrente: o que fazer? Era preciso denunciar o assassinato. Como lembra Paulo Markun, a famosa foto que comprovaria a tese de suicídio era uma farsa tão gritante, assim como o documento rasgado no chão da cena, que supostamente seria “uma confissão de Herzog sobre suas atividades clandestinas e subversivas. Aquela versão não se sustentava em pé e foi um dos estopins para a mobilização que se seguiu”, afirma. O movimento natural foi buscar guarida no Sindicato dos Jornalistas. Nassif lembra que, “quando explodiu a notícia da morte de Herzog, fui correndo ao Sindicato dos Jornalistas. Estava apinhado de colegas, encolhidos nas cadeiras, como crianças embaixo da coberta assistindo a um filme de terror. Lembro-me da presença, até, de Luiz Fernando Levy, proprietário da Gazeta Mercantil e filho do deputado Herbert Levy”. Marília Assef Paulo Markun Jornal Plural A foto evidencia a farsa do suicídio de Vlado

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==