Jornalistas&Cia 1430

Edição 1.430 página 16 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Berço de Martin Luther King e do movimento Black Lives Matter (#BLM), os EUA continuam decepcionando na cobertura de imprensa sobre pessoas negras, como revelou uma nova pesquisa do Pew Research Center. Quase dois terços dos adultos negros (63%) entrevistados dizem que as notícias são frequentemente mais negativas do que matérias sobre outros grupos raciais e étnicos, enquanto 28% não percebem diferença. Apenas 7% acham que é mais positiva. O think tank ouviu 5 mil pessoas negras, que demonstraram pouca esperança em uma mudança no cenário:14% acreditam nisso e 38% acham que nada vai mudar em um futuro próximo. Pode ser por falta de diversidade racial nas redações? Esse é um dos motivos, mas não o único nem o principal, na visão dos entrevistados: 36% disseram achar que a baixa inclusão contribui para uma cobertura racista ou insensível. Entretanto, cerca de metade (51%) culpou a agenda dos meios de comunicação, enquanto 45% acham que os jornalistas estão mal informados sobre a realidade de pessoas negras. E 37% apontam a velocidade do ciclo de produção de notícias como responsável. A diversidade racial na chefia das redações norte-americanas nem é das piores, como registrou o levantamento anual do Instituto Reuters, que mostrou aumento de líderes não brancos, de 20% em 2022 para 33% este ano. No Brasil não há nenhum. Mas nos EUA, essa representação não inclui apenas negros. Também fazem parte da conta do Reuters os chefes asiáticos e hispânicos. Embora não se possa afirmar que a ausência de pessoas negras interfira na forma como os assuntos são tratados, especialistas são unânimes em Frustração e pessimismo: pesquisa sobre representação de negros na imprensa dos EUA mostra o longo caminho a percorrer afirmar que a diversidade leva a uma cobertura mais equilibrada e abrangente. A pesquisa do Pew Center capturou essa impressão, com 57% dizendo acreditar que o noticiário cobre apenas determinados segmentos das comunidades negras, em comparação com apenas 9% que não têm a mesma percepção. Metade acha a cobertura incompleta, enquanto apenas 9% pensam o contrário. E 43% reclamaram de estereótipos, muito mais do que os 11% que afirmam não encontrá-los nas notícias sobre pessoas negras. Cerca de quatro em cada dez (39%) dizem encontrar reportagens interpretadas como racistas ou insensíveis com muita frequência, e outros 41% dizem as encontram às vezes. Um aspecto importante do estudo é que os sentimentos foram parecidos em todos os grupos de negros pesquisados, independentemente da idade, do gênero e até da inclinação política, o que nos EUA costuma determinar opiniões bem diversas entre republicanos e democratas. A frustração com a forma como negros são representados na mídia não está restrita a pessoas que integram grupos sociais ou econômicos marginalizados, mais suscetíveis a estereótipos ou vivendo em áreas com mais violência. A pesquisa mostrou o oposto. Aproximadamente dois terços dos negros americanos com ensino superior dizem que as notícias que veem ou ouvem sobre pessoas negras abrangem apenas determinados segmentos dessas comunidades, contra 49% daqueles com nível de escolaridade abaixo do ensino médio. E três quartos dos que têm renda mais elevada (75%) afirmam que são representados na imprensa de forma mais negativa do que outros grupos raciais e étnicos, contra 57% daqueles com renda mais baixa que pensam o mesmo. O relatório do Pew Research Center lembrou que em 1967 a Comissão Kerner, criada pelo então presidente Lyndon Johnson para investigar as causas dos distúrbios urbanos que tomaram conta do país, foi dura sobre o papel dos meios de comunicação em relação aos negros. O tratamento da imprensa foi considerado sensacionalista, impreciso e injusto, orientado pela perspectiva dos homens brancos e incentivando a divisão. Em 56 anos a situação certamente melhorou. Mas não como a comunidade negra gostaria que tivesse melhorado − nos EUA e possivelmente em muitos outros países, incluindo o Brasil. Generative AI Adobe Stock nº 598964781

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