Jornalistas&Cia 1458

Edição 1.458 página 43 Um debate em família sobre “Le Brésil n´est pas un pays sérieux”, frase atribuída a De Gaulle – que hoje sabemos não ter sido dita por ele, mas pelo diplomata Carlos Alves de Souza −, me fez mergulhar na chamada Guerra dos Camarões. Ela sucedeu à Guerra das Lagostas, travada entre França e Brasil, sem que nenhum tiro fosse disparado. Na década de 1960, o Brasil estendera seu mar territorial de 10 km para 200 milhas, sabiamente prevendo que nesse oceano nacional expandido um dia seria descoberto petróleo, no que hoje é chamado de Pré-Sal. Muitos países, França entre eles, não aceitaram, declararam que a faixa de mar pretendida pelo Brasil era de águas internacionais, onde a pesca era livre. Na ocasião, porém, o problema imediato eram três pesqueiros franceses que vinham “roubar” lagostas no “nosso” mar. A Marinha brasileira ameaçou apreensão dos barcos, a França mandou até um porta-aviões para defender seus pescadores, e a “guerra” só terminaria com um acordo comercial e o “deixa-disso” promovido pelo governo americano. No rastro da Guerra das Lagostas, pescadores brasileiros denunciaram que os franceses estavam avançando numa espécie de camarão gigante que só se criava em água doce no meio do mar. Explico: o rio Amazonas joga tanta água no Atlântico que, mar a dentro, onde não enxerga terra, o oceano ainda é “pura” água barrenta e doce, eufemismo para dizer que no meio do mar ainda é rio Amazonas, ou pouco mais ou menos. Eu não entendia lhufas desse problema quando o Estadão me mandou para Caiena em busca da reportagem mostrando a pirataria promovida pelos pescadores gauleses. Fui, consegui marcar um jantar com o embaixador francês do Brasil passava uns dias na cidade e me levou a um restaurante para tomar uma sofrível sopa de tartaruga (brasileira, por supuesto). Na conversa ele reiterou que as águas “nacionalizadas” eram internacionais, a pesca de lagosta, camarão ou quejandos (que acrescentei no meu vocabulário como uma espécie de peixe) e, batendo na mesa, vociferou: “Nous ne sommes pas des pirates”, o que, é claro, deu título à matéria. Acontece, porém, que descobri serem poucos os pesqueiros franceses na foz do Amazonas. Quem se locupletava com os camaraozões brasileiros eram os chineses, esses sim em grande quantidade e que usavam como base a Guiana Holandesa, hoje Suriname. E me toquei para Paramaribo. O drama, pior para um foquinha inexperiente, era a cidade, estranhíssima. Um terço da população Luiz Roberto Souza Queiroz n A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto ([email protected]. br), assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação. Em Paramaribo, “asilo” com uma stripper e quejandos... B-17 da FAB sobrevoa destroier francês durante a crise, em 1963 Tuitão do Plínio Por Plínio Vicente (pvsilva42@ gmail.com), especial para J&Cia (*) Plínio Vicente é editor de Opinião, Economia e Mundo do diário Roraima em tempo, em Boa Vista, para onde se mudou em 1984. Foi chefe de Reportagem do Estadão e dedica-se a ensinar aos focas a arte de escrever histórias em apenas 700 caracteres, incluindo os espaços. Mauricélio nasceu nos tempos da Talidomida, que a mãe tomou mal sabendo que já estava grávida, quando teve que ir se recuperar da hanseníase num hospital em São Paulo levada por um TFD (Tratamento Fora de Domicilio) garantido pelo governo de Território de Roraima. Ela voltou para Boa Vista e o menino nasceu com uma má- -formação: quadrigitado. Isso, porém, não o impediu de seguir em frente. Depois de completar o segundo grau, fez concurso para escriturário e passou em primeiro lugar. Motivo: apesar de ter apenas quatro dedos em cada mão, era um prodígio na datilografia. Passou a ser o xodó da repartição, pois ninguém era capaz de datilografar tão rápido quanto ele e com o menor uso de errorex. Quadridigitado − De quadr(i)- + -digit(i)- + -ado 1. Adjetivo 1. Que tem quatro dedos ou digitações. (Aurélio) O fenômeno

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