Jornalistas&Cia 1429

Edição 1.429 página 30 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Se alguém ainda tem dúvidas sobre a entrada da inteligência artificial generativa na imprensa, uma nova pesquisa feita pela iniciativa JournalismIA da London School of Economics (LSE) chega para sepultá-las de vez: apenas 1% dos representantes de mais de 100 empresas jornalísticas de 46 países disseram que ainda não testaram as ferramentas. O mesmo percentual não acredita que a IA generativa traga oportunidades para o jornalismo, contra 73% que discordam dessa opinião − menos do que os 85% que experimentaram a tecnologia. Isso sugere que parte deles ainda não se convenceu totalmente, o que pode estar relacionado ao desconhecimento sobre as aplicações e medo dos riscos. No entanto, mais de 7 em cada 10 entrevistados acreditam nas oportunidades. O relatório é um mergulho no universo de incertezas que rondam a adoção da inteligência artificial em todos os setores, incluindo em RP, como demonstrou a edição especial do MediaTalks sobre o tema. No jornalismo, as implicações se relacionam diretamente com a atividade-fim: informar com precisão e isenção. Como a IA está sendo usada nas redações Algumas revelações confirmam o que outros estudos mostraram. Os principais usos da IA generativa são em produção de conteúdo (90%), distribuição (80%) e apuração (75%). Serviços de transcrição de áudio para texto e de tradução automática como Otter, Colibri e Whisper foram os mais citados, ainda que com as habituais reclamações de traduções imprecisas, sobretudo quando o áudio é de uma pessoa com sotaque. Por outro lado, relatos da ajuda da IA para fact-checking mostram que é preciso ir além das queixas sobre alucinações do ChatGPT ou do Bard e olhar a metade meio cheia do copo. Aplicações NLP (Natural Language Processing) estão sendo empregadas para coletar fatos e estatísticas oficiais a fim de confirmar declarações ou anúncios. Outro uso é a busca reversa para conferir se uma imagem foi manipulada. Momento “emocionante e assustador”: o que diz nova pesquisa da LSE sobre IA generativa no jornalismo São exemplos de como a IA pode ajudar o jornalismo e a sociedade se for incorporada às redações. Desigualdades Norte x Sul global No entanto, esse reino dos céus pode não estar ao alcance de todos. A adoção da tecnologia no jornalismo tende a ser menos universal do que muitos sonhariam, outra impressão revelada pelo estudo. Embora as redações enfrentem desafios relacionados à integração da IA em todo o mundo, eles se demonstraram mais pronunciados para as que estão no chamado Sul Global, segundo a pesquisa. Os entrevistados destacaram desafios linguísticos, infraestruturais e políticos. Observaram como os benefícios sociais e econômicos da IA tendem a se concentrar geograficamente no Norte Global, onde existem infraestruturas melhores e acesso mais fácil aos recursos. Mira Yaseen, pesquisadora principal do estudo, descreve a disparidade global da IA como “uma faca de dois gumes”. Ela aponta que os benefícios econômicos e sociais da IA estão concentrados no Norte Global e os seus danos afetam desproporcionalmente o Sul Global (por exemplo, preconceito algorítmico), exacerbando as desigualdades. “Se quisermos realmente nos beneficiar da IA de forma equitativa no jornalismo, é imperativo que adotemos um enquadramento consciente do poder do desenvolvimento e adoção global da IA, um aspecto que está frequentemente ausente nos debates”, disse. Mudanças “emocionantes e assustadoras” O jornalista Charlie Beckett, diretor da iniciativa da LSE, não coloca panos-quentes sobre os riscos da tecnologia para a mídia. Ele acha que as mudanças trazidas pela IA ao jornalismo são “emocionantes e assustadoras”. E admite que a pesquisa confirma a percepção de que as ferramentas de IA generativa são “uma ameaça potencial à integridade da informação e dos meios de comunicação”. Desde, é claro, que não sejam bem usadas e incorporadas aos processos, ele ressalta. Cumprindo-se essa premissa, diz Beckett, elas oferecem «uma oportunidade incrível para tornar o jornalismo mais eficiente, eficaz e confiável». O professor, que fez carreira em redações até criar o centro de estudos, em 2019, diz que a pesquisa é um retrato fascinante da imprensa em um momento crucial de sua história. Leia mais sobre a pesquisa em MediaTalks.

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