Jornalistas&Cia 1429

Edição 1.429 página 43 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Aquele papo interessante com o podcaster Leo Lopes vai continuar na coluna de hoje, onde falamos mais de suas paixões e ideias para o mercado. Ele ficou tão aficionado por podcasts que além de criar, produzir, editar e apresentar, passou a fazer um programa sobre as novidades do setor, com informações nacionais e internacionais, o CastNews. Entre as notícias, Leo detalha o que acontece no mercado, dá dicas de tecnologias e dos novos negócios que vêm na esteira do podcast. Nesse sentido, defende algo curioso para o formato de áudio via web. Para ele, os podcasts são os herdeiros naturais do rádio AM dos anos 1980/90, não o FM, como muitos pensam. Esse formato se desenvolveu nos Estados Unidos e migrou para o Brasil, crescendo em paralelo ao AM, não como decorrência dele. Assim, os processos de produção e elaboração de programas com formatos e linguagens mais próximas dos comunicadores acabaram sendo levados para o podcast, pois têm mais flexibilidade para criar conteúdos fora das grades de programação das emissoras. Outro ponto importante já dito por Leo é que as gerações de podcasters acabaram trazendo como referência a escuta das emissoras do AM de quando eram crianças, como ele e outros. Nessa esteira, ouviam Gil Gomes, Eli Correia, Barros de Alencar e muitos outros profissionais que marcaram época no rádio AM. Nesse contexto, o produtor e apresentador afirma que “a comunicação é a prestação de serviço e a instantaneidade é a proximidade; o engajamento, a fidelização do ouvinte. Uma coisa que acompanhei quando criança e que só fui me dar conta quando comecei a trabalhar como profissional do meio rádio é que os grandes comunicadores, quando mudavam de emissora, continuavam fazendo o mesmo sucesso, porque a audiência migrava com eles. A audiência não era da emissora, era do comunicador. Por isso os passes desses caras eram altos”. Por outro lado, o FM desenvolveu-se de outra forma, em que o locutor é um anunciador: “É o locutor que anuncia a música, que chama o comercial, faz um testemunhal, fala a hora certa. Em alguns momentos do dia, dependendo da emissora, você tem programas de conteúdo, programas de entrevista na hora do almoço, geralmente relacionados com humor, programas de futebol e esportes no final do dia, enfim, outra forma de fazer rádio”. Foi pensando sobre isso no curso da Rádio Oficina que Leo desenvolveu o programa RádioFobia, para a disciplina de Direito, do então professor Nilo. Com o programa na mão, buscou as emissoras de rádio e alguns profissionais do meio o desencorajaram, pois afirmavam que O herdeiro do rádio AM é o podcast... Leo Lopes o conteúdo era muito bom, mas precisava de alguém para pagar, para patrocinar. Neste ponto Leo chegou a desanimar, pois queria fazer rádio como comunicador, levando informações, prestação de serviço e muita conversa para os ouvintes. “Desanimei porque eu queria fazer rádio de comunicação, que é o que o podcast reacendeu em mim. Eu poder comunicar, falar, entrevistar pessoas”. Foi nesse momento que ele passou a levar suas ideias para o formato de podcast, em que podia fazer o que sempre sonhou, sem as travas das emissoras. Com isso, desenvolveu seu projeto, que acabou por dar origem à produtora e a outros projetos na área, conforme falamos no texto anterior. Com o passar do tempo, Leo foi convidado por Luiz Henrique Romagnoli, grande conhecedor do meio, para fazer palestras para radiodifusores sobre a relação das emissoras com a internet, que na época era vista como um “inimigo” do rádio. “Ele me convidava para participar de eventos de radiodifusores Brasil afora pra tentar convencer esse pessoal da concessão. Mostrar que o rádio não era inimigo da internet, que a internet não era inimiga do rádio, que a internet devia ser aliada do rádio. Isso lá em 2011. Era eu, Luciano Pires, Lalá Moreira, rodando eventos Brasil afora para compartilhar nossa experiência de comunicadores que usavam com sucesso a internet e que o rádio poderia também fazer bom uso disso”. “Atualmente, vemos tudo isso acontecendo com uma grande interação do áudio e da web”, lembra Leo Lopes. ”Então, é uma comunicação em as mídias se complementam. Fico muito feliz de ver que o rádio está aprendendo com isso e, obviamente, nunca vai perder importância. Com todas essas características que citei, como a prestação de serviço, a velocidade, a espontaneidade, o alcance, isso nunca vai acontecer”. Para fechar, o podcaster lembra dos colegas que atuam na produção e veiculação de programas nas plataformas digitais, que não ganham nada pelo trabalho, fazendo conteúdo de qualidade pelo prazer de se comunicar com público. Para esses abnegados Leo afirma que o uso do formato podcast pode ser uma vitrine para o trabalho, levando a novos negócios e a transformações de vida, como aconteceu com ele, que é o menino que gostava de rádio e agora é um dos produtores mais conceituados do mercado. E para quem quer ter seu podcast ele dá a dica: “Vai ser um prazer ajudar quem quiser produzir o seu podcast. Cada novo podcast que surge ajuda a mídia a se consolidar. Não existe nicho esgotado, não existe tema esgotado, nada tá esgotado. Por mais que exista gente falando sobre qualquer assunto, você ainda não falou tudo sobre aquilo. E se a sua opinião é relevante, ela merece ser ouvida. Se o que você pensa é relevante, merece ser ouvido. E aí, criar o seu podcast vai ajudar todo mundo a crescer. Então, sou um entusiasta acima de qualquer coisa”. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. Luiz Henrique Romagnoli

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