Jornalistas&Cia 1429

Edição 1.429 página 57 Discípulo esforçado, aprendi com o jornalista e imortal Zuenir Ventura, o “Mestre Zu”, na Redação da Visão, nos anos 1970, que nós, você e eu, jornalistas, somos todos “filhos da pauta”. Pautas as há, espinhosas, a maioria, e, também, as prazerosas, tais como ir ao show de um ídolo do rock ou entrevistar com exclusividade um Prêmio Nobel. Quando eu era correspondente da Folha de S.Paulo em Londres, anos 1980/90, recebi da Secretaria de Redação a agradável missão de cobrir a F. A. Cup Final, no emblemático Estádio de Wembley, a decisão da Copa da Inglaterra, evento mór do futebol inglês. Era a 107ª edição do jogo final da competição mais antiga do mundo do futebol, no dia 14 de maio de 1988, entre Wimbledon e Liverpool. Sabedor da tradição de trajes formais para a Tribuna de Imprensa de Wembley, vesti o que tinha de melhor no meu guardaroupas e, de posse de minha credencial de imprensa, parti, nos trinques e entusiasmado, para Wembley, numa tarde primaveril, de céu azul e esparsas nuvens em Londres, mas com aquela incessante brisa friazinha, friazinha... Não podia imaginar que a simples ida a um jogo de futebol iria se transformar numa tarde inesquecível. Sim. Uma troca de sorrisos, uma piscadela enviando uma mensagem apaixonada pela sutil linguagem dos olhos e um demorado aperto de mãos... Assim foi, em menos de um minuto, o começo, o meio e o fim de meu longo affair com uma graça de alteza... Tudo começou com a minha chegada à icônica praça de esportes. Dirigi-me à entrada principal, reservada n A colaboração desta semana é novamente do jornalista e escritor Antonio Carlos Seidl ([email protected]). Trata-se de uma versão resumida de uma das 21 crônicas do livro Lábios de chocolate − novas inconfidências de tempos (i)memoriáveis (Livraria Atlântico), seu terceiro livro de crônicas após fazer 70 anos, lançado em julho passado. Vendas direto com o autor no WhatsApp 11-98411-3144 ou com a editora. u Formado pela UFRJ, com mestrado na London School of Economics, Seidl foi editor assistente do Serviço Brasileiro da BBC de Londres, repórter e correspondente da Folha de S.Paulo em Londres e assessor de imprensa do HSBC Bank Brasil. É também autor de Do palácio ao bordel – Crônicas e segredos de um jornalista brasileiro em Londres (Grua Livros, 2018) e O beijo na calçada − crônicas extraordinárias de um repórter ordinário (Livraria Atlântico, 2022). O flerte Antonio Carlos Seidl a autoridades, convidados e imprensa. Entrei no elevador. Folheava o tradicional programa oficial do match, uma revista de luxo, impressa em papel acetinado, com muitas fotos em cores, inclusive, em destaque em toda a página 3, a de uma linda lady, olhos azulíssimos, um sorriso simpático, o belo rosto adornado por uma principesca tiara de diamantes. Bonita que só ela. O ascensorista abriu a porta, e junto com os demais passageiros, roboticamente, distraído e inebriado, saí. E me vi num amplo salão nobre. Um cordão vermelho demarcava um espaço decorado para uma recepção elegante. Logo contracenei com um senhor de smoking, solene como um mordomo de filme policial inglês, que intui devia ser o cicerone de alguma cerimônia que estava ali por acontecer. Com ar simpático, indicou-me a entrada numa área reservada para um coquetel em homenagem à monarquia britânica, que seria representada na ocasião por Sua Alteza Real, a Princesa de Gales, conhecida, interplanetariamente, como Lady Di, apelido carinhoso de Lady Diana Spencer, título de solteira da jovem Diana Frances Spencer, filha do aristocrata britânico Edward John Spencer, o 8º conde Spencer. A beleza do programa de luxo. Caramba!, disse, surpreso, de mim para mim. Tinha saído no 3º em vez do 4º andar e acabara de ser incluído, mais por sorte do que por castigo − e certamente, creio, pela sobriedade de meus trajes −, no rol dos convidados para um evento da nobreza britânica. A presença de um representante da família real é uma marca da F. A. Cup Final, em um país que mantém rigorosamente suas tradições, até por que elas rendem uns bons trocadinhos para o cofrinho da polêmica casa real britânica... Antes do jogo, a realeza, acompanhada pelo presidente da Football Association, o anfitrião da festa, entra em campo por um tapete vermelho para ser apresentada pelo capitão de cada time aos jogadores perfilados no gramado, dez minutos antes do pontapé inicial do combate. Mais tarde faz a entrega de medalhas e troféus a vencedores e vencidos. Ao chegar a Wembley, e antes de ocupar sua confortável poltrona no Royal Box (camarote real), a pessoa representante da monarquia participa de um brinde no salão nobre. Até 2002, bradavam “God Save the Queen!”, com as taças de champanhe ao alto. De agora em diante, com a morte da rainha Elizabeth II, brindaremos “God Save the King!”. Do tim-tim participam ilustres convidados da F.A., tais como embaixadores estrangeiros e ocupantes de cargos importantes na vida pública, privada e social do Reino Unido. Foi lá que dei de parar. O competente mestre de cerimônias me deu a orientação para a ocasião: “Os convidados ficarão em um círculo informal para cumprimentar Her Royal Highness The Princess of Wales. Diga apenas seu nome e a instituição que

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