Jornalistas&Cia 1453

Edição 1.452 página 20 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. A pergunta de 1 milhão de dólares − ou muito mais, a julgar pelo tamanho do negócio, dos empregos gerados e do impacto social − para a indústria de mídia é: o que os jovens consumidores de notícias querem? Uma pesquisa feita pela Medill School of Journalism, da americana Northwestern University, é mais uma a tentar responder, trazendo indicações que podem ajudar a direcionar esforços de conquista de novas audiências. O estudo Entendendo o público de 2030 é resultado de entrevistas em profundidade com 45 jovens entre 18 e 25 anos de mercados bem diferentes: Estados Unidos, Nigéria e Índia. As respostas foram analisadas à luz de outras pesquisas sobre o tema e por um conselho de 19 especialistas em mídia e tecnologia. Eles identificaram fatores que estão moldando e continuarão a moldar a indústria de notícias nos próximos anos. Foram destacados quatro comportamentos principais. Um deles não é novidade para quem convive com jovens, quase sempre de olhos grudados nos smartphones: eles fazem o que o estudo classificou de “transição fluida” entre tarefas como fazer compras, mandar mensagens, assistir vídeos, postar nas redes − e se informar no meio de tudo isso. Outro comportamento observado é a filtragem por meio de redes confiáveis, representando a busca por informação em fontes que conhecem − ou sentem que conhecem −, como os criadores de conteúdo independentes. O terceiro relacionado: a confiança em opiniões pessoais para entender as notícias. Por fim, o estudo registrou uma capacidade avançada de navegar em plataformas de mídia social e comunidades online para gerenciar a sobrecarga de informações. Lacunas entre anseios e entrega A pesquisa apontou lacunas claras entre os que os jovens querem e o que está sendo entregue pelos que produzem notícias. Há conclusões que parecem óbvias, mas não são tanto assim quando se olha com atenção. O primeiro anseio é que a fonte seja confiável. Até aí todos concordamos. Mas o que é fonte confiável para essa geração? Três elementos formam essa noção: credibilidade, afinidade e transparência de intenção. Por confiabilidade entende-se algo diferente do que gerações anteriores viam como tal. Não se trata do tamanho da empresa jornalística ou do seu prestígio, e sim de pessoas que viveram uma determinada experiência, não somente aqueles que a relatam. Afinidade lembra bolha de filtro: são os que pensam parecido, entrando aí os influenciadores. E transparência de intenção está relacionada a aspectos como quem financia um canal ou empresa de mídia, informação nem sempre clara. A segunda grande expectativa é “significado pessoal”. Não é mais o que o veículo acha que é relevante para o público, e sim o que ele julga importante, levando a uma redefinição do que e notícia, segundo o estudo. Esse anseio está apoiado em dois pilares: informação que interessa por fazer parte do universo pessoal e que ajude a tomar decisões. O terceiro grande anseio é a O que os jovens consumidores de notícias querem? Pesquisa da Medill tenta responder forma de contar a história, com narrativa envolvente. Isso se desdobra em conveniência (notícias disponíveis nas plataformas preferidas e personalizáveis; linguagem (clara, acessível, informal) e em um formato que funcione para cada situação − de notícias rápidas a vídeos aprofundados. O “mapa da mina” O estudo da Medill dá conselhos para quem quer sobreviver nesse mundo de gente que sabe o que quer e o que não quer. Entre eles estão parcerias com criadores independentes para construir afinidade, colocar jornalistas para falarem diretamente com o público − como alguns jornais passaram a fazer com sucesso no TikTok − e aproveitar a IA para personalizar a entrega do conteúdo. A pesquisa recomenda também que a indústria de mídia imite os formatos e as experiências dos usuários nas redes sociais, como a tendência de vídeos curtos. Linguagem simples e humor são outras recomendações, assim como formatos projetados para quem não vai mesmo ler textões. Outra das sugestões está em sintonia com outras pesquisas sobre evasão de notícias: jornalismo de soluções, mostrando saídas e não apenas «coisas terríveis que acontecem ao redor», como relatou um dos jovens participantes do estudo. A pesquisa completa pode ser vista aqui.

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