Jornalistas&Cia 1429

Edição 1.429 página 20 Ainda segundo Ribeiro, foi a partir da década de 1980 que as empresas passaram a sentir forte necessidade de se relacionar com a sociedade, preocupando-se com a opinião pública – antes o relacionamento que mais importava era institucional, com o governo e, por óbvio, dispensava a intermediação da imprensa. Sentiam-se ali os primeiros ares de redemocratização do País e para acompanhar os novos tempos as empresas buscaram jornalistas experientes para fazerem a interlocução com a imprensa. Sem relação de causa e efeito, mas certamente com influência conjuntural no processo, a migração de jornalistas das redações para as áreas de assessoria também refletiu o enxugamento das redações iniciado a partir da frustrada greve dos jornalistas em 1979 em São Paulo – é corrente que foi ali que os donos das organizações jornalísticas descobriram que era possível fazer jornal sem jornalistas, o que, feliz e obviamente, não é verdade. Centenas de profissionais foram demitidos por causa da greve e encontraram um mercado florescente nas assessorias de imprensa, tanto dentro das empresas quanto nas agências que começavam a nascer. “Naquela época as empresas estavam terceirizando as atividades meio, o que incluiu as assessorias de imprensa. Os profissionais que trabalhavam dentro das empresas foram incentivados a abrir suas próprias agências e passar a prestar o serviço para clientes”, conta Edu Ribeiro. Em 1984, durante o II Encontro Paulista de Jornalistas em Assessoria de Imprensa e Publicações Empresariais, surgiu a ideia da elaboração de um Manual de Assessoria de Imprensa. A iniciativa foi encampada pela Federação Nacional de Jornalistas, que editou o manual em 1985 e o lançou e 1986, em Brasília (ver outros detalhes mais à frente). A quarta e última edição do manual, revista e ampliada, foi publicada em 2007. Nos anos 1990, o mercado de assessorias de imprensa fervilhava, rivalizando com as agências de RP, num movimento que nunca mais parou. No ano 2000, surgiu a Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), consolidando um mercado cada vez mais importante “mas, até certo ponto, ainda informal”, afirma Edu Ribeiro, um dos principais articuladores do grupo de 56 empresários que fundou a entidade. Esse mercado, composto atualmente por mais de 900 agências − no censo oficial realizado em 2021 por Abracom, Mega Brasil e este J&Cia, e que está sendo refeito este ano, agora também com a adesão do Grupo Empresarial de Comunicação (Gecom) −, faturou em 2022, segundo o Anuário da Comunicação Corporativa, quase R$ 5 bilhões e emprega, segundo levantamento da Universidade Federal de Santa Catarina, cerca de metade dos jornalistas formados no País. A título de exemplo, dos 39 palestrantes do 26º Congresso Mega Brasil de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas, em agosto de 2023, 17 eram jornalistas Depois da ditadura

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==