Jornalistas&Cia 1429

Edição 1.429 página 37 Por dentro da Comunicação Pública No início do mês, o Rio Grande do Sul enfrentou o maior desastre natural dos últimos 40 anos com a chegada de um ciclone, que resultou na morte de 27 pessoas no estado. Nesta entrevista, a jornalista Bárbara Barbieri, responsável pela comunicação da Defesa Civil de Porto Alegre, conta que o maior desafio na comunicação naqueles dias foi o enfrentamento das fake news e explica como lidou com o problema. Qual a principal dificuldade em termos de comunicação na crise que estão vivendo aí no Sul? Bárbara Barbieri − Neste momento e neste tipo de crise temos dois públicos específicos: o cidadão que vive nas ilhas e está passando pelo desastre e o cidadão que vive fora da região e só pelas notícias fica sabendo do que está acontecendo. Sendo assim, nosso maior desafio é informar de maneira clara o que está acontecendo e ao mesmo tempo contornar as fake news, que ganharam bastante proporção nos meios de comunicações digitais, nas redes sociais. Quais os principais meios de comunicação que estão sendo usados? Bárbara Barbieri − Utilizamos redes sociais das secretarias (Defesa Civil, Ceic − Centro Integrado de Comando de Porto Alegre, o site da prefeitura, além dos veículos de empresas privadas, como rádio, TV e jornal, que estão sendo grandes aliados nesse momento. Na sua opinião, qual meio tem sido mais eficiente no contato com a população nessa crise? Bárbara Barbieri − As redes sociais. Em termos de conteúdo, o que precisa ser dito e qual o tom do discurso neste tipo de crise, de modo que não gere mais pânico ou preocupação indevida na população, mas tampouco possa parecer minimizar a gravidade da situação? Bárbara Barbieri − Conteúdo sério com dados e informações de fontes oficiais, como medições dos rios, previsão do tempo, precipitação etc. Quando possível nosso coordenador faz um vídeo com as informações de alertas para ser distribuídos entre todos. Crise e fake news na comunicação das enchentes no Rio Grande do Sul Com o advento da IA (Inteligência Artificial), um novo desafio coloca-se para os gestores de comunicação. E, bem mais complexo, mas que pode se tornar um poderoso aliado nos processos comunicacionais. É preciso considerar as bases de dados que suportam os processamentos de IA, para que sejam adequados na produção de conteúdo e na sua divulgação. O raciocínio parte do alerta feito pela cientista de dados Renata Prôa, do Hospital Albert Einstein, que se dedica ao assunto com foco na saúde, mas que vale também para a comunicação social. Segundo Renata, que mora e estuda nos Estados Unidos, as bases de dados públicas disponíveis para o uso dos algoritmos de IA são, em sua maioria, vindas dos países ricos e não representam a realidade de um país diverso como o Brasil, por exemplo. O uso de uma base inadequada de dados vai resultar numa comunicação equivocada, quando não ineficaz. Daí a importância de formar e contar com uma base de dados de fato, adequada para o país. “Além de reforçar preconceitos sociais”, alerta a pesquisadora. Renata aponta que, no caso da comunicação pública, o gestor deve investir na produção de conteúdo informativo e acessível não apenas ao tema específico que trata determinada mensagem, mas ainda fazer um esforço para educar a população com respeito à IA, com um conteúdo de fácil compreensão, voltado para a realidade da população. Inteligência Artificial na comunicação exige cuidados com base de dados Bárbara Barbieri Renata Prôa Depois de quatro anos com o discurso científico sob intensos ataques negacionistas, um dos objetivos da comunicação do CNPq − Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico nesta nova gestão é revalorizar o tema da ciência junto ao público, sem deixar de lado suas tarefas mais rotineiras. Assim podem ser (bastante) resumidas as diretrizes da comunicação do órgão federal, que tem a jornalista Mariana Galiza como chefe da Assessoria de Comunicação. Funcionária da comunicação do CNPq há 20 anos, Mariana destaca que “a maior dificuldade dos últimos anos foi atravessar o discurso de negacionismo científico quando nosso principal papel é divulgar a importância da pesquisa científica”. A jornalista aponta que “as narrativas de desqualificação da ciência, das instituições de pesquisa e ensino (institutos e universidades) e dos/das pesquisadores/ as produziram, de um lado uma desconfiança prévia e irracional de tudo que vem da produção científica e, de outro, a tentativa de enfraquecimento institucional dos órgãos vinculados à ciência”. Mariana destaca que um dos momentos mais difíceis foi quando se tentoue acabar com o CNPq e fundi-lo com a CAPES. Segundo a assessora de comunicação do CNPq, isso gerou uma necessidade de defesa da instituição e esclarecimento rotineiro da importância da manutenção das duas agências. Agora, ela ressalta o momento positivo do órgão, com “a liberdade de temáticas e o reconhecimento da importância da instituição”. Comunicação do CNPq reestrutura-se para revalorizar a ciência

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