Jornalistas&Cia 1429

Edição 1.429 página 38 A mais estável e silenciosa das redes Tecnologia e estabilidade são variáveis que não costumam andar juntas. No ambiente de redes sociais, tanto menos. Para empresas de mídia que precisam inovar para se manterem relevantes, o caminho traçado frequentemente se limita a replicar o que seus concorrentes já fazem com ferramentas relativamente novas. Tem sido assim com redações que montam equipes inteiras dedicadas ao TikTok, ainda que não tenham certeza do retorno que este esforço trará. O mesmo vale para o Threads, para o XTwitter e até para X-Hiring - primeiro desdobramento prometido por Elon Musk na direção de tornar o antigo Twitter um “aplicativo-para-tudo”. Hub de produção de conhecimento e análise de tendências para comunicação e jornalismo Ana Brambilla É da unicidade da proposta do Linkedin que emerge um modelo de negócios sustentável e independente de publicidade. Usa a plataforma quem procura trabalho e quem recruta - e ambos têm razões de sobra para pagar pelo serviço. Claro, há quem use para discussões profissionais, informação segmentada, auto-prestígio e, ultimamente, para anotações sobre a vida pessoal - o que, aliás, não tem sido muito bem recebido pela comunidade. Ao contrário da tendência das outras redes, que se consolidam como espaços de entretenimento e consumo, o Linkedin tem espaço para informação jornalística, conteúdo denso e referencial. Fortemente habitado pela Geração Z, traz um recorte orgânico de audiências com maior poder aquisitivo e nível mais alto de escolaridade. Acerta quem vê nesta combinação a fórmula do tal “público qualificado”, tão pretendido por veículos hipersegmentados. É verdade que usuários demandam uma sensibilidade maior de quem lhes oferta conteúdo e não gostam de ser alvejados por generalidades a todo instante. Embora o engajamento no Linkedin cresça - em abril o compartilhamento de conteúdo aumentou 41% em comparação a 2021 -, a empresa não divulga a duração média das sessões. Será que o povo entra, posta e cai fora? Para motivar a permanência no feed, a rede prioriza publicações de contatos diretos e de publicações cujo tema dialogue com o perfil informado pelo usuário. Em recente matéria da Bloomberg, a empresa afirmou que quem usa o Linkedin gosta de ver “conteúdo baseado em conhecimento” e que, em junho deste ano, a quantidade de pessoas que gostariam de ver outro tipo de posts por ali reduziu 80%. Ou seja, há mais acertos do que erros. A densidade do “clima” no Linkedin não elimina o aspecto humano que prevalece em qualquer rede social. Isso significa que as marcas não devem estar ali com a expectativa de fazer negócio. Mesmo quem usa muito o Linkedin, o faz na condição de indivíduo e navegar na plataforma não costuma ser parte da jornada laboral de ninguém. Linkedin não é vitrine de vendas e insistir nisso pode resultar em aversão à empresa. A tônica do conteúdo bem-vindo é a utilidade profissional, daí a importância de uma curadoria seletiva, de conteúdo quase atemporal (o algoritmo ainda peca no timing de entrega), de poucas postagens que sirvam a algo mais do que apenas informar. Enquanto a Meta reitera seu divórcio com veículos editoriais, quem sabe o Linkedin possa ser a rede social onde o jornalismo ainda faz sentido. Para isso, é preciso rever o objetivo de gerar audiência volumosa a partir de incontáveis publicações. O Linkedin é um espaço ameno, talvez silencioso, como uma biblioteca: quem entrar ali falando alto pode acabar sendo expulso. Mas quem souber aliar jornalismo com serenidade e consistência pode colher bons frutos… no longo prazo. Branded content orbismedia.org Professora do Master: Negócios de Mídia e articulista do Orbis Media Review A ansiedade por “estar onde todo mundo está” aconteceu com o ClubHouse, o Tumblr, até com o Koo. Enquanto isso, na contra-corrente da volatilidade, o Linkedin completa 20 anos de serviço ameno e sólido. Recém neste ano, a rede social que desde 2016 pertence à Microsoft projeta receita de US$ 15 bilhões, menos da metade do que a Meta faturou só no segundo trimestre de 2023. A quantidade de usuários ativos também é modesta: são 930 milhões (no Brasil são 65 milhões) comparados aos 5 bilhões que transitam pelos ambientes da Meta. Mas o Linkedin nunca se propôs a ser uma plataforma massiva, ao contrário. Com um propósito claro e um modelo de negócio que não disputa pela exígua atenção do público, o Linkedin não precisa inventar funcionalidades a cada mês, nem modificar o algoritmo para forçar o sucesso de uma novidade.

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