#diversifica

No 1 – Pág. 13 “Quando se trata de uma pessoa com deficiência, ou infantilizamos, ou superprotegemos, o que está errado”, explica. “Precisamos ter menos melindres para aprender, para ouvir o que é diverso. É uma conversa cansativa, porque estamos enfrentando valores que todo mundo traz das suas casas sem pessoas com deficiência. São espaços onde crescemos assistindo Cinderela, achando tudo bem dar um tapa na cabeça de uma pessoa com nanismo, ou que uma criança com deficiência não precisa estar numa escola convencional, porque ela ‘precisa de cuidados especiais’. Tentar ser natural, sem desconsiderar as necessidades que essas pessoas têm, é um caminho importante para termos uma sociedade mais inclusiva”. E esse “melindre”, relembra Jairo, começa inclusive na forma como são definidas as pessoas com deficiência. Ao longo da história, para substituir e talvez até compensar o uso de termos totalmente equivocados e preconceituosos, como “inválidos”, “incapacitados” ou “deficientes”, a sociedade passou a utilizar diversas nomenclaturas que levavam a uma compreensão errada da realidade desse público. A mais recente e que cada vez mais está caindo em desuso, é a definição de “portador de necessidades especiais”. Uma pessoa só pode portar algo de modo deliberado ou casual, como por exemplo um celular ou um guarda-chuva, que, se houver necessidade, ela pode deixar em algum lugar. Com a deficiência, isso não é possível. Hoje, o termo mais indicado, e talvez o mais simples e óbvio possível, é “pessoa com deficiência”, que, entre outros fatores, não esconde ou camufla a deficiência, mostra com dignidade a sua realidade, valoriza as diferenças e necessidades, e combate eufemismos que tentam diluir as diferenças. “Só precisamos tomar cuidado para não colocar uma embalagem diferente do que isso realmente significa”, complementa Jairo. “Atualmente, temos uma sigla, que eu não digo que está errada, mas que reluto bastante em usar, que é transformar as pessoas com deficiência numa praga chamada ‘PcD’. Demorou tanto tempo para que conseguíssemos ser definidos como pessoas com deficiência, que é o que somos, para agora, lentamente, a sociedade nos transformar em uma sigla”. Movidos por um “superesforço” Quantas vezes ouvimos relatos de pessoas que após perderem a visão ou a audição, por exemplo, tiveram seus demais sentidos aguçados? Ou, então, que encontraram maneiras diferentes de superar obstáculos em cima de suas cadeiras de rodas, e por isso são vistas quase como superheróis, ou exemplos de superação pela sociedade? Romantizar casos como esses, apesar de bastante comum, ajuda a criar uma falsa sensação de que “basta querer” para que qualquer obstáculo seja superado. Mas essa é uma equação justa? Uma pessoa tida como normal precisa superar os mesmos obstáculos – em quantidade e intensidade –, para atingir minimamente a média dos demais profissionais que atuam em seu mercado de trabalho? Para Jairo, essa falsa equivalência, que compara a super-heróis pessoas com deficiência que conquistaram algo básico na vida, na verdade pode esconder uma realidade muito mais complexa, resultante de um “superesforço” de pessoas que precisam ser muito melhores no que fazem para serem simplesmente consideradas no mesmo patamar que os demais em sua área de trabalho. Campanha do blog Território Deficiente tenta dissociar imagem de “super-herói” atribuída a pessoas com deficiência

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