#diversifica

No 1 – Pág. 23 “Eu já recebi um relato de uma estudante de uma faculdade da Região Nordeste, não lembro agora qual estado, em que ela me descrevia, indignada, que a professora disse que uma âncora jamais poderia ter um cabelo black power. Na hora ela questionou: ‘Como assim, você não conhece a Luciana Barreto?’. E isso ainda acontece porque a gente aprende na faculdade que um âncora precisa ter uma aparência discreta, mas para muita gente nossa aparência não é nem um pouco discreta, ou, como alguns gostam de suavizar, dizem que é exótica ou qualquer coisa parecida com isso”. São barreiras e restrições ainda muito presentes na nossa sociedade, mas as mensagens e os recados estão cada vez mais sendo dados, basta querer enxergar e aprender. “Eles já tinham uma apresentadora negra” Mas à medida que pessoas negras ganhammais espaço em lugares de destaque, como a bancada de um importante telejornal, elas também se deparam com uma praga ainda fora de controle na sociedade atual: o discurso de ódio nas redes sociais. “Sinto que desde que virei âncora, e conforme fui conseguindo mais visibilidade e mostrando competência no meu trabalho, também foi avançando o discurso de ódio. Ter uma mulher negra num espaço de poder ainda é um incômodo muito grande para parte da população brasileira. Essa pessoa se sente ameaçada de você estar ali, de ocupar esse espaço. É como se a sociedade dissesse que esse é um espaço que não deveria te pertencer, um espaço que tem um dono” Para ela, esse é um problema que por muitos anos atingiu as mulheres em geral, mas que, hoje, devido à grande participação feminina no jornalismo, os casos são mais raros. “Agora, com mulheres negras, é como se dissessem que aí já é demais”. E mesmo a inclusão de profissionais negros em posições de destaque no jornalismo, segundo ela, ainda está sendo feita de maneira contida em muitas redações, quase como se fosse uma resposta a uma demanda da sociedade pela diversidade. “Esse exemplo claro de tokenismo ainda está muito vivo emmuitas redações. É como se as empresas escolhessem um ou outro representante para dar a resposta de diversidade que parte da sociedade busca”. E qual a solução? Não participar? Para Luciana, é importante que mesmo esses poucos espaços sejam ocupados, para que a transformação possa acontecer de dentro para fora. “A gente entende que faz parte de um jogo, um grande teatro onde cada um sabe qual é o seu lugar nessa peça, mas você não consegue trabalhar para mudar isso se não estiver nessa engrenagem. Com certeza quero ter mais gente como eu, porque essa é a minha luta, mas só vamos conseguir algum avanço se for de forma coletiva. Individualmente, não vamos conseguir nada, ponto final”. Essa necessidade de transformação fica ainda mais clara em um artigo publicado por Luciana no livro Tempestade Perfeita: 7 visões sobre a crise do Apoio temático:

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==