#diversifica

No 1 – Pág. 26 Quem é Nayara Felizardo? Cearense de nascença, pernambucana de pai e mãe e piauiense de formação, Nayara Felizardo é um exemplo claro da grandiosidade e da pluralidade do Nordeste brasileiro, mas que muitas vezes são ignoradas em um contexto nacional. “Nordestina com orgulho, jornalista por teimosia”, como ela mesma gosta de enfatizar, sua história não pode ser explicada como a de alguém que veio de um grande bloco homogêneo, e que tantas vezes sofre com estereótipos preconceituosos. Ela é a soma de diversas realidades, histórias e culturas, mas ainda assim tem a humildade para entender e deixar claro que sua vivência é resultado de só um pedaço de uma região que representa um terço de todos estados brasileiros. Começou no jornalismo em Teresina, onde se formou pela Uespi (Universidade Estadual do Piauí). Atuou por dez anos em publicações locais e se destacou por produzir um jornalismo investigativo de resultado, denunciando mandos e desmandos de políticos e autoridades e seu impacto negativo para a população. Por lá, também foi uma das cofundadoras da Cajueira, newsletter criada para valorizar conteúdos de jornalismo independente produzidos nos nove estados do Nordeste. Foi contratada em 2018 como repórter investigativa no The Intercept Brasil para as regiões Norte e Nordeste. Desde então, curiosamente, passou a morar em Campinas (SP) por uma simples questão logística: por precisar acompanhar o que acontece em uma área tão grande, que soma 16 estados (sete do Norte e nove do Nordeste), a oferta de voos para toda essa região é muito maior daquela cidade do interior paulista, apesar da distância. Coisas de Brasil... Entre seus sonhos, pretende no futuro investir em projetos investigativos que possam virar um documentário ou um filme. “Acho que é uma coisa que eu talvez vá me arriscar daqui há alguns anos”, explica. “A quem interessa se deu praia no Rio ou a agenda do governador de São Paulo?” Mais do que uma pergunta, essa provocação feita por Nayara mostra como algumas notícias locais são frequentemente veiculadas em rede para todo o Brasil como se fossem de interesse nacional. Provavelmente alguém que vive em um destes dois estados nem perceba essa relação, mas é algo recorrente e serve como um termômetro de como o agenda-setting do jornalismo privilegia os grandes centros, mesmo que a relevância de um conteúdo seja hiperlocal. “Não é porque algo acontece em São Paulo que necessariamente terá interesse ou impacto nacional, assim como não é porque alguma coisa acontece no interior do Maranhão que ela não mereça uma cobertura ampliada para todo o Brasil. Para uma pauta ser nacional, ela precisa antes de tudo ter um interesse público”, afirma. Parece uma simples cobrança, mas é um alerta necessário para que a chamada “imprensa nacional” não dê as costas para muitos problemas graves que acontecem fora dos grandes centros sudestinos, como por exemplo o afundamento de bairros inteiros emMaceió, a crise humanitária dos imigrantes venezuelanos em Pacaraima, ou a pesca ilegal de pirarucu em terras indígenas do Vale do Javari. Esta última situação, aliás, só virou notícia nacional com ampla cobertura da mídia, quando envolveu a morte de Dom Phillips, um jornalista britânico, e do indigenista Bruno Pereira. “Eu costumo brincar que para uma notícia do Nordeste virar nacional a desgraça precisa ser muito grande. E quando isso acontece geralmente eles mandam um jornalista do Sudeste, que muitas vezes não está familiarizado com a região e o contexto local, para fazer a cobertura, quando o ideal seria pelo menos contratar alguém no local, nem que seja como frila”. Ela usa o próprio exemplo ao cobrir a Região Norte, com a qual temmenos familiaridade. “Eu cubro o Norte e isso, de certa forma, até me incomoda. Não pelo tipo de pauta, mas pela ideia de que se você é nordestina, entende de Nordeste e Norte. É como se fosse tudo ali, pertinho,

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