#diversifica

No 1 – Pág. 27 no seu quintal. Talvez a única identificação é que se o Nordeste é estigmatizado e invisibilizado, imagina o Norte”. Sempre que tem uma pauta nessa região, Nayara procura antes conversar com jornalistas locais, inicialmente para ver se alguém já está acompanhando para, neste caso, fazer a ponte com os editores para que ele mesmo possa cuidar da pauta como freelance. Mas não raros são os casos em que, por questões políticas, eles são impedidos de publicar denúncias em seus veículos. Assim, acabam servindo muitas vezes como fonte para a própria reportagem dela. “Sei muito pouco sobre o Norte e sobre a Amazônia, por isso preciso estudar bastante antes para entender o contexto, e nesse sentido, a ajuda de jornalistas locais é imprescindível. Para mim, é muito importante essa relação, até para evitar repetir estereótipos, algo que ainda acontece muito no jornalismo, e respeitar o contexto local”. Por isso ela entende que é tão importante os veículos investirem na contratação de profissionais locais como correspondentes: “Muitas vezes, os veículos se blindam dizendo que têm frilas, só que, dependendo do lugar, isso não é suficiente e você pode inclusive estar colocando um profissional em risco, porque um frila não tem direitos trabalhistas e nenhuma segurança em seu trabalho”. Perpetuadores de estereótipos O canal de comédia Porta dos Fundos lançou em 2021 uma esquete que simulava o primeiro dia de um paulista, interpretado por Gregório Duvivier, em uma empresa de Recife. No vídeo, os novos colegas de trabalho, interpretados por Ademara Barros e João Pimenta, faziam “elogios” estereotipados do que gostavam no “povo sudestino”, em uma clara referência a forma como geralmente as pessoas das regiões Sul e Sudeste se referem de maneira simplória ao Nordeste e seu povo: “Mas tu tá aí comendo seu pãozinho de queijo com chimarrão?” “Esse sotaque é muito fofo” “A gente adora o sudestino. A música sudestina. A literatura sudestina. E a comida sudestina?” “Desceu ali do Espírito Santo, é tudo um grande Sudeste. Ummonte de gente branca comedora de pinhão” O vídeo logo viralizou e até hoje já foi visto por mais de dois milhões de pessoas. Essa “reparação histórica”, à base da comédia, mostra claramente como os estereótipos são alimentados e mantidos por tanto tempo, mesmo quando o intuito não é o de ofender. No caso da esquete, eles foram retratados de uma maneira cômica, mas estão presentes no dia a dia, seja na relação direta com pessoas originárias dessa região ou na forma como são retratadas em novelas, campanhas publicitárias, reportagens etc. “O Durval Muniz, que foi uma inspiração para a criação da Cajueira, explica que os estereótipos, para se manterem, não podem ser apenas ruins, porque senão o próprio grupo que é alvo vai recusar. Para existir e para se manter, o estereótipo tem que ser defendido inclusive pelo próprio grupo do qual é alvo”. Mas se alguns desses estereótipos são bem-vistos por parte da população que retratam, qual o problema em repeti-los? Para Nayara, eles podem até ser motivo de orgulho para algumas pessoas, mas nem por isso retratam a realidade de uma região: “Muita gente gosta de taxar o nordestino como forte, batalhador, que aguenta todas as adversidades, que é arretado. Parece até ser um bom estereótipo; afinal, quem não quer ser forte? Quem não quer ser essa rocha? Ser forte como o cacto do sertão, que aguenta seca? Mas tudo isso não passa de um grande estereótipo, porque não somos todos necessariamente fortes, e tudo bem não sermos, até porque não é justo que tenhamos que aguentar todas essas Gregório, João e Ademara

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