#diversifica

No 1 – Pág. 39 O impacto do diagnóstico tardio De acordo com o Programa Neurodiversidade no Trabalho, da Universidade Stanford, entre 15% e 20% da população mundial são considerados neurodivergentes. Infelizmente, a grande maioria desse público nunca foi diagnosticada propriamente. São pessoas com frequência taxadas de maneira simplista como ansiosas, tristes, de difícil convivência, desatentas, inquietas, estabanadas, com dificuldade de aprender ou até desrespeitosas, por “não prestarem atenção ao que os outros falam”. Erick descobriu há menos de um ano seu diagnóstico. Ele já vinha fazendo um acompanhamento psicológico por causa de um quadro de ansiedade, até que um dia, desconfiado de que poderia apresentar TDAH, decidiu fazer em sua casa um teste autoaplicável, chamado ASRS-18. “Eu sentei com a minha esposa e fui fazendo”, relembra. “A medida que eu falava ‘isso aqui eu sou um pouco’, ela contra argumentava: ‘não, não não, você é muito’. No final gabaritei o teste e decidi então marcar consulta com um neurologista”. Após a consulta, veio a confirmação e de repente, tudo fez mais sentido na vida dele. “Naquele momento, pensei: ‘Como eu não sabia disso até agora?’. De repente, tudo fez mais sentido. Sempre sofri com a síndrome do impostor, e então eu pude perceber que eu não era ummau profissional só porque não seguia o ritmo das outras pessoas. Descobri que era um ótimo profissional, no meu próprio ritmo”. Na época, ele ainda vivia em Brasília, e trabalhava na TV Bandeirantes. Com medo das possíveis reações, e até para digerir essa nova realidade, preferiu não expor sua condição em um primeiro momento. Foi só quando deixou a emissora, e retornou para Curitiba, que decidiu publicar sua história em uma thread no Twitter. “Foi ummarco pra mim. Foi libertador. A partir daquele momento passei a ser o ‘Erick TDAH’ para todo mundo, porque todos os que conhecia das redações, meus amigos, meus ex-chefes, estavam ali e ficaram sabendo”. Se por um lado lamenta não ter descoberto antes sua condição, por outro pôde perceber como entender seu diagnóstico e criar mecanismos para minimizar possíveis impactos em seu trabalho, que o ajudaram a seguir adiante. “Todo profissional tem seus pontos fortes e fracos, e com uma pessoa neurodivergente não é diferente. Entender a minha condição ajudou a superar as minhas dificuldades, e me deu mais confiança para trabalhar em cima dos pontos fortes. O TDAH tem uma condição bem comum que é o hiperfoco. É como se a pessoa mergulhasse profundamente em algo quando lhe interessa muito − no meu caso, é a Comunicação. Com o direcionamento correto, produzo conteúdo em uma quantidade que uma pessoa neurotípica talvez não conseguiria”. Ele dá como exemplo o período em que trabalhou no Distrito Federal, cobrindo o Congresso Nacional: “Quando fui repórter de rede da Band em Brasília, pegava a minha mochila, com todos os equipamentos, saía sozinho pro Congresso. Com o equipamento nas costas, arrumava o tripé, dava o play e entrava ao vivo pra BandNews TV, BandNews Rádio, Rádio Bandeirantes, canal Agro+, Band aberta, fazia VT. Tinha dia que eu fazia mais de dez links. Ouvia muito da equipe de São Paulo, que é a cabeça de rede, que eu era o repórter do Brasil que mais entrava ao vivo. Pra mim dava muito certo, porque não consigo ficar quieto”. Mas, segundo ele, isso era possível porque o assunto em questão também era do seu interesse “Eu gosto de Política e por isso estava sempre ligado. Mas se você me colocar para cobrir Economia, vou te entregar um conteúdo muito abaixo, porque não gosto de Economia.

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