#diversifica

No 1 – Pág. 41 Um novo fenômeno, porém, vem ajudando a mudar essa realidade. Nas redes sociais, aumentou consideravelmente a quantidade de influenciadores digitais como Alpin Montenegro, parceira de Erick no podcast Distraídos, que aproveitam o alcance dessas plataformas para falarem abertamente sobre o tema. Em recente artigo publicado na Folha de S.Paulo, porém, o filósofo Luiz Felipe Pondé classificou movimentos como esse como uma “tendência de estilo hype”, ignorando toda luta dessas pessoas em buscarem acolhimento, informação e um senso de pertencimento dentro de um grupo de apoio. Dias mais tarde, a mesma publicação trouxe o artigo O hype do desinformado, de autoria da advogada Vanessa Ziotti. Autista e mãe de trigêmeos autistas, ela é membro da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência e coordenadora do Grupo Especial de Educação da OAB-SP, além de diretora jurídica do Instituto Lagarta Vira Pupa. “Essa ’modinha‘ é uma luta constante e coletiva para que pessoas com deficiência possam existir, ter acesso à saúde, à educação, ao mercado de trabalho”, destacou a advogada, que acrescentou. “Essa moda é sobre acordar todos os dias e pensar que poderia ser um filho nosso naquele camburão da Polícia Rodoviária Federal em que Genivaldo de Jesus Santos, 38, morreu asfixiado − Genivaldo era neurodivergente, da nossa turma descolada − simplesmente porque os agentes não sabiam como agir para abordar uma pessoa com deficiência”. Influenciadora Alpin Montenegro usa as redes sociais para ampliar o debate sobre autismo Recortes distorcidos, como o de Pondé, são um indicativo claro de como a mídia ainda não está preparada para tratar o tema com responsabilidade, uma vez que, em nome da pluralidade, visões preconceituosas ainda ganham espaço em grandes veículos. Outro exemplo bastante recorrente, relembra Erick, são casos de conquistas, comuns a qualquer cidadão, serem retratados como grandes exemplos de superação pelo fato de a pessoa ser neurodivergente. Isso reforça a ideia de que, por causa de suas condições, elas são menos capacitadas a alcançar sucesso em suas vidas. Ele dá como exemplo o caso recente de uma matéria exaltando uma garota diagnosticada com autismo e TDAH que concluiu um mestrado. “Isso é um exemplo claro de uma visão capacitista que ainda é muito forte. Uma pessoa autista tem a mesma capacidade que qualquer outra pessoa. Ela fazer mestrado não é notícia. Vamos lá, para o beabá do jornalismo que a gente aprendeu na faculdade: o cachorro morder o homem não é notícia, o homem morder o cachorro é notícia. Por que que essa menina, que é autista e TDAH, não poderia ter feito mestrado? Qual é a notícia?”. Para Erick, abrir espaço para profissionais neurodivergentes nas redações, ou incentivar aqueles que já são diagnosticados – ou desconfiam – a falarem abertamente sobre o assunto, ajudaria a diminuir a reprodução de informações distorcidas, capacitistas e muitas vezes preconceituosas. Um exemplo recente, sobre como ter um profissional que vive essa realidade pode transformar uma pauta, aconteceu há algumas semanas, quando o estudante Kaito Brito, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi impedido de utilizar o transporte público de Curitiba na companhia de seu cão de serviço. Sem poder voltar para casa, ele passou mal, teve crises de choro e precisou ser socorrido pelo próprio animal. A notícia logo ganhou espaço na imprensa, inclusive motivada por Erick, que publicou a matéria no Regra dos Terços e em seguida levou a pauta para a Record (RIC TV), onde é repórter. Por conhecer as características do diagnóstico de Kaito, ele propôs uma abordagem diferente, inclusive na maneira como a equipe entrevistaria o estudante. “Eu cheguei na emissora, mostrei a história e propus a pauta. Eles aceitaram e então acrescentei: ‘Mas olha, o Kaito é autista, e pessoas com essa condição costumam fazer tudo programado, para evitar crises

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