#diversifica

No 1 – Pág. 7 A jogadora de vôlei Tifanny Abreu e Caê durante as gravações da série Atletrans Redações precisam ser locais de acolhimento Que tal um exercício de reflexão? A redação que você trabalha está preparada para receber um profissional LGBTQIA+? Qual o nível dos comentários que circulam nos corredores e na pausa para o café quando o tema envolve pessoas que integram este grupo? E se essa pessoa estiver passando por uma transição de gênero ou for um profissional trans, ela encontrará um ambiente seguro e acolhedor para poder desenvolver seu trabalho no mesmo nível dos demais jornalistas? Sua voz terá tanta força quanto a de seus pares, e ele terá a possibilidade de crescimento de carreira? “Acho que às vezes é importante a gente demorar para ter uma pessoa trans na redação”, acredita Caê. “Para essa pessoa ser de fato incluída no ambiente de trabalho, a equipe tem que estar pronta. Não basta chegar e falar: ‘olha gente, a partir de amanhã vai ter um jornalista trans aqui’, é preciso mudar a mentalidade. As pessoas tem que estar juntas nessa luta”. No desafio de criar ambientes de trabalho mais diversos, política que vem ganhando espaço nas empresas, principalmente após o crescimento de um outro fenômeno guiado pelas práticas ESG (Ambiental, Social e Governamental, na sigla em inglês), gestores ainda caem no erro de “contratar para colorir” ou “dar um aroma de diversidade”, como criticam alguns jornalistas que vivem essa realidade. “Desde que entrei na ESPN, todo o processo tem sido muito bonito. Lembro que na primeira conversa com o Núcleo de Diversidade, perguntaram o que poderiammudar para me sentir mais confortável. Quando a gente começou a produzir o Reflexões e o Atletrans, vi que a minha palavra, pra gente decidir um caminho, valia tanto quanto a de pessoas que estavam, sei lá, há 20 anos na empresa”. Não por menos, Caê vive hoje um excelente momento profissional e vem conquistando alguns sonhos que, ele mesmo afirma, não acreditava que algum dia fossem possíveis. Para sua sorte, a despeito das dificuldades, sempre teve ao seu lado redações dispostas a fazer o básico para que pudesse encontrar um local saudável de trabalho, preocupando-se unicamente em produzir jornalismo. E isso faz toda a diferença. “Eu estava até esses dias falando com o Pedro dos Anjos, que pra mim era muito doido saber que, em quase cinco meses de redação presencial, ninguém nunca errou o meu pronome. A galera me enxerga 100% como homem que sou, sem eu precisar me encaixar em um padrão cis. Até porque é isso, né, em uma sociedade que é tão transfóbica, ninguém nunca errar o meu pronome? Que loucura é essa que tá acontecendo? Parece que é uma pegadinha. Mas deveria ser assim, a gente não deveria ter medo de estar no mercado de trabalho e de ser a gente”. Parece muito, mas é o básico se lembrarmos que a maioria dos profissionais que sempre estiveram inseridos no mercado não precisam negociar pronomes e respeito, apenas salário, benefícios, jornadas de trabalho e oportunidade de crescimento de carreira. Até por isso, a situação de Caê na ESPN ainda é exceção, mas uma exceção que lhe permite focar exclusivamente em fazer jornalismo, e crescer na carreira em nível de igualdade, como qualquer outro profissional. “Nos últimos anos, tenho feito umesforço para localizar pessoas trans em redações, e até omomento descobri umas dez. Algumas delas, inclusive, estão inseridas emgrandes redações, mas dificilmente conseguem emplacar uma pauta ali. Ou veemuma pauta reproduzindo transfobia e não têm voz para mudar a realidade. Tá ali, sei lá, porque é importante ter esse funcionário, porque se falamuito de diversidade. Mas o quanto essa pessoa é de fato ouvida? Uma redação não é diversa porque ela temuma pessoa negra ou trans, por exemplo, até porque será uma pessoa que vai estar sozinha, e isso émuito difícil se seus colegas não estão prontos para esse debate”. Apoio temático:

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